Volta às cavernas

Choveu e ventou. O galho de um coqueiro (e coqueiro tem galho?) caiu sobre o fio da net que se rompeu deixando-me sem tv e sem internet. Isso foi há 72 hs. Como a eficiência dessa conceituada empresa é única no mundo, o fio será consertado somente amanhã, quatro dias depois do ocorrido. (Isso mesmo, 96 hs para remendar um fio). Resultado: quatro imensos dias nas trevas.
Após muita luta consegui sinal no meu celular e postei algumas gracinhas no feicibuque, tipo "à noite terei que participar de um ritual que os antigos chamavam de conversar" e que meu casamento com a olhos verdes estava sendo colocado à prova (Como se isso não acontecesse todo dia...)





Acho que esse primeiro estágio de retorno ao homem das cavernas deveria chamar-se "euforia momentânea e sem razão", pois é exatamente isso que aconteceu comigo. Achei tudo muito bom, mesmo atrasando trabalhos que precisavam da rede para serem feitos, mesmo ficando parcialmente isolado, enfim, longe inclusive de saber quem estaria matando quem mundo afora.
É estranha a sensação de não saber quantos morreram a cada dia em razão de um filme estúpido de quinta categoria que ninguém viu. Ou se batemos o recorde de mortes nas estradas durante o final de semana. Provavelmente batemos. E talvez hoje haja mais mortos do que ontem e menos do que amanhã. Mortes em nome de deus, seja lá qual deles for. Chega a ser lógico analisar os números assim, chega a ser evidente, mas é estranho não saber das matanças diárias através da televisão, junto com informações de que a NET tem uma locadora em minha casa ou que "fazer um 21" é mais barato. Minha locadora está fechada e meu 21 virou sete um. Mas as mortes continuam as mesmas.
A vida segue, porém, e meu instinto sarcástico ordena que eu faça mais gracinhas, afinal, humor sobre tragédias é melhor. Mas, claro, prefiro não fazer isso. Prefiro me concentrar em temas para conversas. Sim, caros leitores, conversas. É isso que farei à noite, sem dúvida alguma, independente da minha atualização de status (nunca entendi bem o que isso quer dizer) no feicibuque. Talvez eu devesse reunir alguns tópicos para o debate, só para garantir. Coisas simples, como a importância da vontade sexual... Não, melhor não mexer com vespeiras. Então algo como o ônibus espacial, aquele que explodiu. Boa! Isso deve render um bom papo. Eu poderia começar dizendo "Poxa, veja só, que pena o ônibus espacial, aquele que explodiu". É uma boa frase. Quanto tempo usarei com esse tema? Cinco, seis minutos? Nossa, eu preciso de assunto para quatro ou cinco horas. Patrícia, minha Poeta, que falta você me faz. 
Gandhi! Perfeito. No mínimo uma hora falando sobre ele. Ou sobre o Capital, do Karl Marx. Posso perguntar, com olhar curioso, aqueles de baixo para cima: "Diz, minha querida, em detalhes: o que tu acha do Capital?" e assim que ela estivesse terminando, umas duas horas depois, engrenaria outra: "e o que você acha que aconteceria se o Gandhi ainda vivesse?" Ou, não poderia faltar, "você concorda com o Freud quando ele disse que, às vezes, um charuto é somente um charuto?" E ainda mais: " Se o Gandhi, o Marx e os Bush, pai e filho,  Bolt, o jamaicano e o Freud, com as cartas do Jung em punho, estivessem naquele ônibus espacial, você acha que viraria piada?"
Enfim - perdoem a rima - o que será de mim?
Chegou a noite. Se vocês estiverem lendo esse texto é porque sobrevivi. Ou, ao menos uma parte de mim.
E provavelmente tenha me tornado um "expert" em "O Capital" e jamais fumarei outro charuto.

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