Anticristo

"Trabalho para mim mesmo. Não devo satisfação a ninguém. Não tive escolha (ao fazer o filme). Foi a mão de deus, eu temo. E eu sou o melhor diretor de cinema do mundo. Não sei se deus é o melhor deus do mundo".
Essa frase foi dita por Lars Von Trier na entrevista que deu logo após a exibição de Anticristo, seu último trabalho, no Festival de Cannes. O clima não era nada amistoso, pois na sessão especial para a imprensa, ouviu-se vaias em vários momentos e alguns jornalistas sairam antes do final. Lars falou esta pérola da modéstia humana depois de ser desafiado por um crítico inglês, que o indagava agressivamente sobre a razão de fazer o filme. Queria, a todo custo, uma justificativa. A queixa geral é que ele não havia sido compreendido, que não havia como entendê-lo, para ser mais claro.
Questão básica e esclarecedora: depois de ler a frase entre aspas acima, pode-se esperar o que? No mínimo uma curiosidade gigantesca é criada, claro. Verdinhas garantidas. A publicidade corre por vias tortas, sem dúvida. Por isso, prefiro uma análise "neutra". Ou, pelo menos, tentar.
Alguns detalhes (que foram incessantemente chamados de apelativos) merecem destaque. Existem cenas de sexo explícito, muito bem feitas e articuladas. Existem também cenas de automutilação explícita. Ódio explícito. Medo explícito. Luto explícito. Enfim... o filme todo é explícito. Desculpem a repetição da palavra, mas foi proposital para dar ênfase a esta questão. Se tudo é, porque o sexo, fator de extrema importância para o enredo, não seria? Apelativo seria disfarçar, ou, nenhuma saudade, colocar uma bolinha preta sobre a genitália.
Ressalte-se, também, a discussão travada sobre o gênero; para muitos, ainda indefinido. Ele passeia livremente entre o drama, a fantasia e o terror. Alguns críticos rotularam como terror, mas com um "indiscutivelmente" ou "indubitavelmente" atrás. Estranho. Alguém já viu algo como "O Exorcista, Terror, certamente"? Claro que não. Coloca-se lá o gênero e ponto final. Esta falsa afirmação mostra a insegurança de quem definiu assim. Somente isso. E, na verdade, ele sequer "cabe" no conceito de um filme de terror.
Pois sou claro quanto a isso. Trata-se de um drama. Difícil e belo. Bem filmado, com cenas apaixonantes e outras endemoniadas, muito bem montado e editado. A direção é impecável e trata de nossos medos. Todos eles. A técnica é relativamente simples. Começa com a pior tragédia que pode acontecer a um casal e desenvolve-se explorando nossa ruindade e estupidez, ampliadas e expostas pela culpa e pelo sofrimento, desencadeados pela desgraça.
É verdade que Lars, como em todos seus filmes, abusa do uso dos símbolos. Ele mistura uma boa parte da ficção da ficção. Ultraja a "realidade" criada por ele mesmo. Mas, como falamos de cinema, deixa assim...
Mais um detalhe: o título foi dado simplesmente para render algum na bilheteria. Isso é lamentável.
Afinal, não sei se ele é o melhor diretor de cinema do mundo, nem se o deus dele é melhor que qualquer um de nós, mas sei que vale a pena. Se você quer ver o que será certamente o filme mais forte do ano, com cenas que extrapolam o convencional e, por vezes, causam algum incômodo, ao cinema, sem dúvida.
Se estiver namorando, vá sozinho!



14 comentários:

Anônimo disse...
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Leandro Noronha da Fonseca disse...

após a cena em que a raposa começa a falar, o filme fica ruim. Mas o início do filme é belíssimo!

Sueli Maia (Mai) disse...

Beto, coloquei a recomendação do teu livro lá no 'inspirar' no canto esquerdo da tela em slide, ok?

Boa sorte!

Como estás?
Abraços,

Silvares disse...

Ai caramba, como diz o Bart Simpson. Com tanta coisa explícita ainda se trata de um filme? Para mim cinema é representação. Adoro ver um actor fingir um orgasmo. Se é orgasmo mesmo deixa de ser cinema e passa a ser a realidade. Ou não? Sinceramente, desde "Ondas de Paixão" nunca mais vi um filme do bom do Lars do pricípio ao fim. E acho que não vai ser desta.

Beto Canales disse...

Muito interessante teu comentário, Silvares. Realmente, é de se pensar...

Anônimo disse...
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Letícia disse...

Não li esse post. Li o anterior e vou dizer... você tá de parabéns porque tá batalhando, Beto. Fico muito happy for you. =)

E teu livro deve ter ido parar em Madagascar porque aqui não chegou. =/

Beijo.

Anônimo disse...
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Ricardo Valente disse...

to curioso.
abraço!

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Biba disse...

Estou muito curiosa para assistir! Lendo seu comentário me deu mais vontade ainda de ver. Lars é um dos meus diretores preferidos e pouco me importam algumas coisas que falam dele ou que ele fala.

Beijos
Carpe Diem!!

Anônimo disse...

Quero ver,meio receosa,mas quero. Lars von trier me amedronta um pouco, haha.Dançando no escuro me fez chorar por minutos interminaveis,rs.
Vamos ver se chega aqui em sjc.rs.

Beijao

Letícia disse...

Achei a crítica. =)

Concordo contigo. O filme é belo mesmo. Trata sexualidade, amor, perda e nossas perversões também. Sem falar na loucura que é um agente em ascensão nos dias de hoje. Achei forte e tudo me deixou com a sensação de que estava assistindo o que queria. É o tipo de filme que eu precisava ver. That's it.