Derrotas e Frases Feitas



Eu tenho verdadeira aversão a frases prontas. Alguns usam coisas ditas em outros tempos por outras pessoas, como se as tivessem inventadas providencialmente naquele exato instante do vacilo, naquele espaço de tempo onde o silêncio não é bem-vindo.
Dizem, por exemplo, que devemos "saber perder". Perder em que sentido? Naquele que inadvertidamente colocamos uma nota de cinco reais para o lado de fora do bolso, deixando-a livre para o primeiro passante? Não deve ser, claro. Resta a opção de perder uma disputa, um jogo. Não deveria ser, portanto, "saber ganhar"? Quem não soubesse, acabaria perdendo. Não é lógico?
Também não sou muito simpático as competições. Desde o jardim da infância ensinamos nossas crianças a competirem em tudo. A sociedade nos transforma em eternos adversários, seja na escola, no trânsito, no trabalho ou no maior campo especialista nisso, os esportes. Esse clima de sempre testar quem é o melhor está nos tornando piores. Menos saudáveis. E aí, quando entramos em uma disputa e não vencemos, a velha e boa frase pronta sempre vem com força: "tem que saber perder".
Apesar de procurar ficar longe de disputas, acabo, involuntariamente, entrando em algumas. Quando perco, admito, não "sei perder". Claro que isso nada tem a ver com respeitar o resultado e até mesmo em considerá-lo justo.
Vamos imaginar uma partida de futebol. Eu e mais dez barrigudos com mais de 45 anos contra o Santos do Robinho e Neimar. Algo me diz que o resultado não seria muito favorável à minha equipe, fato plenamente  aceitável e justo. Entretanto, eu correria insuportáveis metros campo afora e daria dribles desconcertantes para tentar vencer, desautorizando, portanto, o tal "saber perder". Certamente os adeptos deste conhecimento malogrado entrariam em campo para fazer gol contra. Saber perder é isso: gol contra, afinal, derrota não existe somente ao final do jogo, ela começa já no primeiro minuto. A pessoa não pode ter esse conhecimento, não deve cultuar a tecnologia do fracasso. Saber perder é entregar o jogo. E isso fatalmente tem outro nome: covardia.
Claro que a derrota, mesmo que óbvia e esperada, tem um gosto amargo e não poderia ser diferente. Sal tem gosto salgado sempre, misturado com qualquer alimento e em qualquer situação.  Mesmo assim, nada de "tirar o cavalo da chuva", afirmar que "o importante é competir" ou qualquer bobagem dessas.
Disputou? Perdeu? Lamente, fique triste, chore, proteste e, depois dos faniquitos, prepare-se: logo adiante terá mais uma competição. E depois outras e mais outras.
Nós vivemos aquilo que nós mesmos criamos.
"O que não tem remédio remediado está."  Blergh!
Esperem, por favor, vou ali cortar os pulsos e já volto.


6 comentários:

Letícia Palmeira disse...

Eu não corto mais os pulsos. Eu rezo. Tb tenho pavor a tais frases feitas. Coisas como: "Não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje". Se bem que acho que essa daí é mais um provérbio. E não tem coisa mais chata que provérbio. Não consigo seguir um sequer.

Onofre disse...

Sei perder, qdo venço

Ricardo Valente disse...

Legal vc escrever isso... Pois sabe que a gente tem que dançar conforme a música, se adaptar ao sistema, a não ser que seja totalmente contra. Tentar ganhar, para viver melhor.
Em vez de agradecer a Deus por ter calçados, quando muitos andam de pés descalços, ter comida para matar a fome, valorize quem vc é e tente sempre ser melhor, sem culpa e muito menos esquecer o lado espiritual da coisa, que não tem nada a ver com miséria, muito menos religião, mas com respeito, sem prejudicar ninguém. E digo mais: que bom se fosse diferente, mas não é. Vamos morrer e o mundo vai continuar... assim!
Abraço, Beto!

Anônima disse...

Tudo bem, cortar os pulsos, contanto que os faça com bolacha maria , blza ?! kkkk

Beto Canales disse...

Cortar os pulsos com bolacha Maria... haha... Gostei disso...

Biba disse...

Faço como a Letícia, Beto, eu rezo! Também detesto frases feitas, de efeito e provérbios. Mas, às vezes caio em algumas ciladas, como: a vida é breve. Fazer o quê...

Beijos
Carpe Diem!!!