Ironias


Esta semana conheci duas frases engraçadas. Irônicas. Uma delas de uma sutileza parecida com um rinoceronte em um baile infantil: "melhor ser rico e com saúde do que pobre e doente". Quando ouvi, fiquei quase uma semana rindo. Tudo bem, sei que não é para tanto, mas, sei lá a razão, cada vez que penso, escuto ou falo, rio novamente. A outra, também sensacional, diz: "Ir ao MacDonalds e pedir salada é o mesmo que ir ao puteiro e pedir um abraço". Não é de uma delicadeza prática e funcional fantástica? Friamente: se a pessoa vai a uma lancheria onde o gostoso são os queijos, as carnes, os molhos e as frituras, tem sentido pedir alface e rúcula? Que vá a um restaurante vegetariano, então. E abraço se ganha da mãe. Dos amigos.
Quanto a primeira frase, claro que ela não precisa de uma explicação, mas, permitam-me dizer, beira à incompreensão de tão sarcástica. Ela pode, em ouvidos, digamos, não tão atentos e afinados, soar como deboche, escárnio. Mas não é. Não passa de uma gozação com o óbvio, com a redundância. Um trocadilho quase infame. E usa o que há de mais difícil na literatura: a ironia.
O "problema" de usar esse artifício, é que ele não depende só de quem escreve. Ao contrário, para funcionar corretamente, depende bem mais de quem lê. E essa peça, que pode ser a pessoa mais genial entre todas, como também alguém desprovido de recursos intelectuais, receberá ou não a sutileza. Caso ele perceba o sarcasmo, provavelmente até um sorriso deva aparecer gratuitamente, porém, caso não entenda,  pode gerar confusões enormes. Até pela   obviedade da coisa: uma das formas mais fáceis e comuns de fazermos uma ironia, é falar exatamente o oposto daquilo que queremos dizer. Então, corre-se o risco de entenderem o contrário do que pensamos. E o oposto nem sempre é saudável nas relações sociais.
Quando a ironia é falada, pode-se usar artifícios como a voz disfarçada ou alguma expressão no rosto, que identifique algo diferente nas palavras, mas, na escrita, não existe isso. Elas ficam lá, as letras, uma no ladinho da outra, documentando tudo. Por isso, quando um escrevinhador consegue ser irônico, ele transforma-se em um escritor. É um quesito indispensável.
Fiquei um tanto circunspeto com essa história toda. Já ando preocupado com coisas burocráticas, como a sobrevivência e incentivos fiscais para fazerem blogs, e agora isso. 
Mas, enfim, se está ruim para nós, imaginem para a classe média!

4 comentários:

Letícia Palmeira disse...

Também ando preocupada, Beto. Depois que eu soube da "Mary Beth" recitando poemas (por dinheiro?), pode me trazer qualquer frase irônica que eu vou rir ou me lamentar.

E eu prefiro a citação sobre o MacDonald's.

Beijo.

Rubem Penz disse...

Beto,
Finíssima ironia no fechamento!
Abraços, Rubem

Bolacha Maria disse...

Beto adorei seu texto.Fiquei pensando e para mim a ironia bem dita ou escrita possui sempre duas verdades, quando unimos as duas formamos uma terceira, coisa louca essa de se pensar né ...
Beijo.

NDORETTO disse...

Beto,devo a você minha risada domingo adentro!!!Olha que vem vc me fez,rapaz! Só por isso vou seguir!

(Dica da Letícia Palmeira no Face)
Neusa