A Fada das Fronhas (Casamento e Descobertas)

Se me perguntarem uma coisa que tem tudo para dar errado, eu respondo sem nenhuma dúvida: casamento. Talvez por isso em muitas vezes dá mesmo e em outras tantas fica rancor e ódio onde um dia já teve (vou ter que rimar, não adianta) amor e respeito. Essa relação é algo um tanto quanto insólita, um pouco sonhadora, irreal até. Como conceber que uma pessoa conhecida em uma balada, cheia de álcool na cabeça, em uma noite dedicada aos prazeres carnais, por exemplo, torne-se mãe dos seus filhos? Pois acontece. Ou que aquela colega de trabalho, com a (pode dizer bunda? - não, melhor não), com as nádegas que fazem todos parar, torne-se a companheira de noites insones cuidando do filho febril? Poxa, bun... nádegas não fazem isso. Eu até escreveria aquela máxima que casamento começa ruim, mas depois vai piorando, piorando, mas não vou fazer isso, porque não é verdade. Tem também o lado bom. O lado da descoberta. Um bom casamento torna, em algumas situações, o marido (é o lado que defendo, ou melhor, que represento - sai para lá ato falho) um verdadeiro Indiana, um paleontólogo, um aventureiro descobridor nato.
Aos fatos: minha dedicada e feliz esposa rompeu os ligamentos do pé. O resultado disso é algumas semanas engessada e um par de muletas. Claro que, como um dos melhores representantes de bom marido que conheço, comecei a "ajudar" nas tarefas de casa. Sou uma "Dinalva" perfeita. Faço todo o serviço incansavelmente e com muito esmero. Por sinal, que servicinho mais fácil o doméstico. Com quatro neurônios é possível fazer tudo em poucos minutos escutando música e ajudando o filho nos temas. Mas isso é outro assunto. O assunto mesmo foi a descoberta. Numa bela noite, ao deitar, reclamei da fronha suja. Falei com a delicadeza pertinente aos donos de casa:
- Esta fronha está suja! 
Ela respondeu (até agora não entendo a razão) com alguma ironia:
- Você acha que as fronhas trocam-se sozinhas? - Eu, cheio de boas intenções, sentimentos nobres e com expressão de espanto, afirmei:
- Claro que sim. Oras, que pergunta!
Falei sério. Na verdade, eu nunca havia pensado no assunto mas, era evidente, as fronhas devem ter vida própria e, quando sujas, vão até a lavanderia e uma limpa toma seu lugar. Ou, acho até uma hipótese mais provável, tem uma fada, a meiga Fada das Fronhas, que quando as pessoas saem de casa elas vão lá e fazem o serviço. Isso era evidente e tratava-se de uma questão de lógica: se eu durmo todas as noites e acordo todas as manhãs, há quase cinco décadas, sempre com fronhas limpas e nunca limpei, é óbvio que existe uma fada que faz. A felizarda companheira, com toda a paciência do mundo, explicou - e eu com toda minha capacidade intelectual compreendi - que as fronhas eram trocadas por humanos. No nosso caso, ela. Fiquei chocado. Quase chorei. Mas resisti pela emoção da descoberta. Que coisa fantástica. Uma verdade, mesmo que perversa, quando vem à tona, é um momento mágico. Entre minhas caras de espanto ela disse:
- Vá até o roupeiro, na prateleira mais acima, à esquerda, e pega duas para fazermos a troca.
Foi demais para mim. "O que?", esbravejei. A fase "Descobertas novas em sua vida" continuava a mil. 
- Além de tudo existe um local para guardar fronhas?
Não esperei a resposta porque fui correndo olhar. Desta vez eu chorei. Quando vi aqueles panos todos, dobradinhos, um acima do outro, não resisti. Que emoção. Recuperei os sentidos e disse aos prantos:
- Só falta agora tu me dizer que a descarga do banheiro não é automática...

Aviso aos navegantes
A partir de hoje, compondo um projeto maior, serão republicadas 15 crônicas sobre casamento. Peço desculpa aos leitores antigos, que por ventura possam ter ligo alguma, mas essas postagens seguirão até o quarto aniversário do blog, em julho. Depois desta data, o Cinema e Bobagens intercalará notícias - com textos mais concisos e rápidos -  sobre cultura junto às crônicas. 
Leitores lusitanos, saibam que a intenção é não focar somente acontecimentos locais.

Um comentário:

Onofre disse...

desta eu lembrava cada linha, mas valeu a releitura... espero as outras...