Intocáveis

Existem duas reações básicas e distintas quando gosto muito de um filme: ou saio do cinema com muita vontade de falar sobre cinema, ou, acreditem, saio com vontade de falar sobre temas menos telúricos, mais, digamos, abstratos.
Pois ao assistir o excepcional Intocáveis, para não perder o trocadilho, uma irretocável produção francesa, saí do cinema com vontade de fazer as duas coisas. Isso foi inédito em minha história cinéfila. Minha vontade era falar sobre a montagem simples e eficiente, dos atores, os dois principais, dignos de um oscar cada um, da bela Paris, muito bem retratada na fotografia de muita qualidade, mas, era também de dissertar sobre como o riso é fácil quando acontece em cima do drama, e, ao mesmo tempo, como o choro é solto quando drama não perde o  humor. Resumindo - algo impossível - em uma frase somente, eu diria, sem medo, que é uma comédia onde se ri dezenas de vezes e chora-se outras tantas.
O filme consegue unir riso e choro quase que em uma coisa só. Consegue fazer uma crítica ferrenha, mas ao mesmo tempo sutil, à arte, desde a clássica até a moderna. Consegue unir o rico com o pobre e mostrar a dependência recíproca, o útil ao obsoleto, o preto com o branco, a paz com o conflito, enfim, consegue uma junção de coisas diferentes e muitas vezes antagônicas, dentro e fora da tela.




Talvez por isso que esse texto não fale exatamente sobre cinema e muito menos sobre os tais temas abstratos. Talvez a mistura sensacional que desfila com desenvoltura em nossa frente por uma hora e doze minutos deixe sequelas nos espectadores.
Comigo, a consequência imediata foi a alteração da minha conservadora lista dos três melhores filmes (a saber, neste rol para entrar um sai outro, ao contrário da lista dos 10 melhores, onde só entra e deve ter algo perto de uma centena de participantes) que atualmente é composta por Bastardos Inglórios, O Lutador (contestadíssimo)  e Inconscientes. Pois, como sou um cabeçudo teimoso e de gosto pra lá de duvidoso, retiro solenemente o Tarantino, lembrando angustiado que Bastardos entrou há pouco no lugar do Pulp Fiction. Estou me sentido um lixo, um personagem do próprio Tarantino por fazer isso, mas, a culpa é da minha consciência e a maldita ideia de que a história subliminar vale tanto quanto a contada.
Uma observação: essa minha lista nunca teve comédia até a entrada de Inconscientes, e, agora, têm duas. Novos tempos?
Uma última desculpa para não ter escrito o que eu queria/deveria: o filme, Intocáveis, foi baseado em uma história real e os protagonistas estão vivos até hoje.
Não sei se isso piora ou melhora, mas, é mais um motivo para correr ao cinema. Como disse uma grande amiga, não é filme para ver na TV: mexam-se!

Um comentário:

Laura Peixoto disse...

Tb curti o filme.... abç!