Macho que é macho...


Se tem uma coisa que eu sou é macho. Talvez por ser gaúcho, sei lá. Por aqui dizem que gaúcho que não é macho é Paulista, e isso certamente não sou, até por que nunca disse "o meeeuuu, me dá dois pastel e um chopps", então... Ou talvez por destino mesmo. Macho que falo é sinônimo de valente. Não corro de uma briga. Dia desses, por exemplo, ia tranquilamente para casa quando, numa das principais esquinas de Porto Alegre, Av. Cavalhada com Otto Niemayer, tinha três caras dando um pau num baixinho. Não aguentei, aquilo mexeu comigo. Parei o carro e desci. Demos tanto laço naquele nanico que ele deve estar até agora procurando o caminho do pronto-socorro.

Noutra ocasião, cheguei num bar e tinha um cara mexendo com uma menina. Linda ela, morena, daquelas que o cabelos parecem ruivos contra a luz, seios fartos e corpo esguio. Os olhos eram amendoados e úmidos. Roupas simples e justas, acompanhados de umas havaianas verdes, protegendo pés pequenos, com os dedos todos miúdos, naquela ordem decrescente perfeita: do maior ao menor, sem esmalte nenhum. Mas quase não reparei nela, por que o brutamontes, um desses caras que fazem halterofilismo e mais parecem um roupeiro de portas abertas, chegou perto e disse uma gracinha qualquer. Ela baixou a cabeça e pediu com voz suave que ele parasse. Não parou. Pior: pegou à força sua mão. Contrariada, ela tentava puxar e não conseguia. Em um caso assim, nem que fosse uma feiosa - se bem que não existe mulher nesta classificação, com o grau etílico em que me 'desencontrava' - eu deixaria por isso mesmo. Levantei a cabeça e, sem pensar - até por que se pensasse eu falaria sobre musculação - disse com todas as letras:

- Tu tens duas opções, meu caro. - Ele interrompeu-me e perguntou com um olhar de raiva:

- Quais? - Não vacilei e com voz firme e alta sentenciei:

- Tu tens duas opções, meu caro: ou larga o braço dela ou não larga.

O rapaz me olhou com cara de espanto e, soltando a moça, tentou dizer algo mas eu não ouvi. Já não tenho uma audição boa e de longe e correndo, pior ainda. A menina provavelmente verei por aí, como modelo ou garota propaganda de cosméticos. Gosto delas, das manequins da indústria da beleza.

Mas, isso é ou não um ato de coragem? Comigo é assim mesmo. Defendo os "frascos e comprimidos", não, isso era noutra época, defendo os fracos e oprimidos sem medir esforços. Na verdade a única coisa que meço é a distância da saída.

Lembranças e brincadeiras à parte, o que digo é simples: coragem não é enfrentar alguém ou algo, bater, brigar, surrar. Coragem é não agredir e resolver a questão. Seja mais forte ou mais fraco, somente covardes agridem. Macho que é macho usa a diplomacia. Corajoso que é corajoso conversa, negocia.

Nosso mundo está repleto de covardes.

A propósito, aquele baixinho deve estar cheio dos esparadrapos até hoje, e é melhor que não passe perto de mim, ou chamo meus outros três amigos e coitado dele!




14 comentários:

Letícia disse...

Beto,

Você é macho mesmo. Falando assim dos paulistanos, socorrendo gente que precisa de ajuda (E vale salientar que o bom macho enxerga sempre os principais detalhes numa fêmea - cor de cabelo, seio e esmalte) e ainda enfrenta robô de musculação.

A coragem anda escassa, Beto. E ser macho talvez seja isso que você falou ou outra coisa qualquer. Fui "macho" dia desses. Meu filho caiu e eu mesma - sozinha - levantei ele (Ele pesa uns 30 kg), levei pra dentro de casa e fui forte pra não deixar que ele ficasse com medo porque o tombo foi feio.

Talvez Macho seja um adjetivo masculino, feminino, plural.

Bjs, Beto.

Felipe Lima disse...

ri muito com isso.

Laura Peixoto disse...

Eu também ri...
mas desconfio de tanto machismo.
rsrssss

Luiz Gonzaga B. Jr. disse...

Ser macho é fácil. O difícil é ser homem, concordar com a reforma autográfica e torcer para o vasco!
tenho dito.

Beto Canales disse...

Luiz, no quesito futebol, levo uma vida fácil: campeão do mundo fifa e campeão de tudo... hehe

Cara de 30 disse...

Hmm... Macho-cho! Embora concorde com suas definições de covardia e coragem. :)

Biba disse...

Digo lá! É bom estar de volta e poder lê-lo calmamente. Eu te digo que grande parte dos homens nem querem mais ser homens no sentido da macheza mesmo. Viram uns bobocas que aceitam tudo ou não se ligam em nada.
Gostei de sua postura.
Tava com saudade!
Beijos
carpe Diem!!!

Kauana Resende disse...

Apoiei totalmente seu posicionamento! Tudo deveria ser realmente resolvido na base da diplomacia, mas venha cá rapaz, três te defendendo ao mesmo tempo não é covardia não?! (risos)

Luiz Gonzaga B. Jr. disse...

É, Beto. Já eu sou vascaíno...
Preciso dizer mas alguma coisa?
Buááá´, Buááá´!!!

Anônimo disse...

Beto quando acho que conheço a sua linha de escrita voce parte tudo de novo ehehehe. Engraçado como voce ficou detalhado a brava quando foi falando da menina, mas muito bonita que seja, chinelo quebra tudo amigo, bota ai no texto um salto alto giro, e uma cara de cabelo semi loiro e 48 anos de vida, mas furor de 20.
Sobre o baixinho, no meio da sua dicção brasileira fiquei sem saber se voce bateu no baixinho ou se sovou os outros 3...
Fica bem Beto, beijo pra ELA

Malu Godinho disse...

Adorei o humor inteligente...

Muito bom o blog...

Um abraço!

Unknown disse...

Engraçado, aqui em São Paulo falam o contrário. Que gaúcho é macho até debaixo de outro macho, tche!
Impagável o texto, adorei e vou recomendar.
Abraço

Beto Canales disse...

Hehe Zailda... gostei dessa...

JORGE LOEFFLER .'. disse...

Caralho, mas este texto de tão bom é f.d.p.
Genial mesmo.
Muito bom rir a essa hora da noite.
Parabéns.