Enfim, cinema.
Do Outro Lado, um filme turco-alemão me instiga a escrever e, estranhamente, não sobre a película, nem técnicas ou efeitos, muito menos interpretações ou fotografia. Assisti e saí do cinema pensando: trata, afinal, do que este filme? Bueno, ao princípio: tenho um amigo, (amigaço - Cícero) que disse que o Guion, aqui em Porto Alegre, é um cinema que homem pode beijar homem na boca mas não se pode comer pipoca. E é verdade. Um lugar de filmes "cabeça", portanto. Repleto de boas obras francesas e coisas do gênero, lugar ideal para este tipo de exibição. Pois do Outro Lado vi comendo pipoca, numa sala bem mais confortável e ampla, com uma tela de tamanho satisfatório, o que foi muito bom. É um filme difícil que por vezes angustia. Então, pipoca nela (Na angústia, claro). A única referência que pretendo fazer sobre técnicas é quanto a montagem, que foi feita de uma maneira atemporal com sobreposições de cenas que quase confundem. Isso também foi importante para a obra, dando um clima meio "pancada" a tudo, mas mostrou-se eficiente para que se compreendesse e conhecesse melhor as personagens, apesar de parecer que o montador estivesse bêbado.
Então, do que trata, afinal? Pois vi muito: amores, desgostos, decepções, preconceitos e por aí afora. E em cada quesito outras muitas divisões. Em amores, por exemplo, existem os proibidos, os não aceitos, de pai para filho, de mãe para filha... e assim por diante. É incrível, mas apesar dessa riqueza toda, o filme não trata de nada disso. Ele fala de relações. Esse complicado e vital componente de nossas vidas. O que pretendemos, afinal, depois de tudo passado? Temos nossas relações desde o primeiro instante até o final. Passamos por centenas de tipos: atamos, desatamos, odiamos, amamos, construímos, destruímos, exploramos, cedemos... enfim, tudo em nome ou para elas. Então, qual a surpresa de algum filme tratar disso? A resposta não é simples. Na verdade, é muito raro que isso aconteça. Vê-se muitos filmes sobre relacionamentos, sobre amores ou desamores, tanto faz, mas não sobre a relação, o elo. Tanto que o que menos importa, neste caso específico, é entre quem ela acontece, e sim como e porque está acontecendo. É indiferente que seja entre pai e filho ou um casal de lésbicas. O que precisamente está em foco não é a diversidade nem finalidade, e sim ela própria. Então, levando em conta a 'profundidade' com que foi tratada, o filme assusta. Perceber que temos inúmeras relações, que precisamos delas para viver, que precisaremos delas até para morrer, sem falar que precisaremos também para sermos ou não felizes e coisas assim, é aterrador. Dependemos, afinal, de algo complexo fora de nosso controle para vivermos, ou até sobrevivermos. Para tudo. E é disso que o filme fala. Quer saber? Melhor ver somente o que aparece na tela, e torcer para a filha não saber da mãe prostituta assassinada e torcer para o pai do mocinho não ter morrido sem encontrá-lo antes.
Ou não ver o filme!
Fiquei devendo cinema.
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