Música e preconceito


Tem uma história no meio futebolístico que é memorável: um técnico solicita uma contratação de um jogador ao presidente do clube. Ao ouvir o nome, o cartola diz sem nenhuma dúvida:
- Este cara não dá! É um mulherengo de marca maior.
- Mas eu não quero ele - responde o "entendido" - para casar com a minha filha, quero pra jogar futebol.
Simples assim. Um marceneiro não precisa ter em seu currículo nada parecido com mestre em Língua Portuguesa, por exemplo, da mesma forma que um professor não precise necessariamente lidar com uma serra tico-tico. Não só as habilidades, como funções, gostos ou excentricidades, quaisquer que sejam elas, ou mesmo defeitos, deveriam interferir no gosto que temos por algum profissional. O que quero dizer não é tão complicado como minha ânsia faz com que pareça: o jogador de futebol: um centroavante. A função dele é fazer golos. Se os fizer, estará cumprindo as obrigações do ofício, portanto, sendo um profissional competente. Se ele tem uma, duas ou - seria um herói - três mulheres, problema (?) dele. Claro que tudo sempre dentro dos limites que a lei e a sociedade impõe. Portanto, para alguém desempenhar a contento seu ofício, basta que ele faça bem feito àquilo a que se propõe, ou tenha a aptidão necessária, que alguns casos cruelmente exigem, e será um bom profissional. Acredito que não devamos condenar um centroavante que faz muitos golos por ter mais de uma namorada. Interessa à torcida é vencer, e para isso os golos são necessários, não a castidade ou monogamia.
Essa pequena introdução é para falar de Amy-Jade Winehouse, uma londrina de 25 anos que queria ser garçonete de patins, mas, a vida é muito cruel, ela não conseguiu (e nem conseguirá) realizar-se profissionalmente. Afirmo isso categoricamente, veementemente: ela nunca será uma garçonete por um simples fato: esta menina, com um sonho tão simplório e humilde, é nada mais nada menos que a melhor cantora desde Edith Piaf. Sabem que sou exagerado, mas, sinceramente, afirmo isso sem o menor receio de estar aumentando algo.
Ela canta com voz de uma negra gorda de 40 anos, tem uma expressão corporal de uma etíope raquítica de 60 e um cérebro de uma menina branca e mimada de dez, destas crianças que nem os pais suportam. Não bastasse isso, é viciada em drogas, dizem que das pesadas, além de álcool e tudo mais que destrua a saúde. É pouco? Pois tem mais: Amy casou-se com em Miami com um sujeito que está detido acusado de agressão. Ela mesma foi presa duas vezes por porte de drogas e teve pelo menos uma overdose. Alguns médicos afirmaram que a moça tem um enfisema e caso não largue o gosto pela "química", perderá a voz e morrerá em breve. Mais: em Portugal, no Rock in Rio Lisboa, cantou bêbada para 100 mil pessoas, com interpretações emocionadas, destaque-se. Já agrediu fãs e teve visto negado (e isso é ruim?) para a terra de Obama, além de aparecer seguidamente com várias escoriações pelo corpo. Ufa.
Pois esta mesma mulher, em seu segundo álbum, das seis indicações que teve ao Grammy 2008 venceu, nada mais nada menos, que cinco: melhor canção, gravação, artista revelação, album pop e melhor interpretação feminina, além de um prêmio surpresa em que os outros artistas escolheram o vencedor. Tudo isso e 10 milhões de cópias vendidas até o primeiro semestre deste ano, somente do segundo disco.
Conclusão: (tenho uma certa implicância com elas, as conclusões, mas vamos lá) não quero Amy para mostrar como exemplo ao meu filho. Quero para ouví-la cantar. E fazer isso é belo, maravilhoso. O ritmo das canções, o jazz trabalhado, as histórias tristes musicadas, e muito bem musicadas, a voz... os músicos de primeiríssima linha. De novo ela, a voz.... áh , linda! Perfeita! Chego a ver a negra frente ao microfone, sob meia-luz e muita fumaça de cigarro, cantando jazz, belos e tristes jazz, em um boteco que só vende uísque, com poucas mesas sem toalhas e assoalho de tábuas que ramgem e sem garçonete de patins.
Agora sim, talvez com um pouco, mais um pouquinho só - de exagero: se ela não se matar em cinco anos, ultrapassa Piaf e torna-se a melhor cantora de todos os tempos. E desafio aos que gostam de música e não gostam dela: escutem-na de olhos fechados, escutem somente a música, nada mais, e vocês me darão razão já na segunda vez que fizerem isso.
Amy viva! Vou torcer pela música e esperar que as drogas não terminem com tudo isso. Elas já levaram Edith. É muito para quem fica.

15 comentários:

Felipe Lima disse...

Não é novo: concordo em tudo o que disse. Acho-a fantástica. Decadente, amoral e fantástica.

Nem Li disse...

Adoro ouvir Amy quando estou deitado, bebado e no escuro.

É o-te-mo..

ficadica

Luiz Gonzaga B. Jr. disse...

Nao parei ainda para escuta-la (la se foram meus acentos)mas nao me interessa se ela e drogada ou nao. Sou fa da Janis desde sempre e se a Amy canta bem... vamos ouvir. So acho pena ela estar sendo conhecida pelos mutivos errados.

Cara de 30 disse...

Não gosto dela. Reconheço que tem uma voz excelente mas não gosto dela. Questão de gosto e, como você sabe, gosto é igual àquela parte do corpo que cada tem a sua, certo?!

P.S.: Pra não dizer que é 100% de implicância, gosto de Rehab e só.

Adriano Queiroz disse...

Ela canta muito mesmo.
As drogas já levaram alguns talentos embora, mas como disse Rimbaud, o artista queima no fogo de sua própria arte.
A diferença entre um drogado que passa por nós na rua e Amy, é que ela canta muito e seus bas-fond geram muito lucro.
O mundo assiste seu definhamento, talvez com certa banalidade.

Abraços Beto.

Anônimo disse...

Adoro a voz dela. Em junho fui vê-la ao Rock in rio em Lisboa! Entrou em palco a cambalear, de copo de vinho na mão e cocaína no decote. até os músicos estavam constrangidos. Quando cantou (?) o Rehab , na parte de "No,No,NO" o povo berrou todo "Go,Go,Go". ´Vai acabar como a Janis Joplin, Jim Morrison e um largo etc...

Bjs

Desarranjo Sintético disse...

Bah, eu até concordo com você. Tem pessoas de que eu não gosto, e até procuro ver os defeitos, apesar de serem bons profissionais, como é o caso do romário. Eu detesto el, acho de péssima índole e preferiria dar qq outro exemplo de jogador para qualquer pessoa do que ele. o caráter dele me anoja.
Mas isso é questão de gosto, a Amy, por mais drogada que seja, eu gosto dela, não sei porque, e concordo plenamente que é uma voz maravilhosa, um talenteo sem igual, uma bela revelação. Rehab é uma obra prima.
Bom, eu acho é que se pudéssemos ter talentos assim não-drogados e com um certo caráter, isso sim seria bom...

Fábio.

Kauana Resende disse...

Eu também torço para que viva mais de 5 anos... Ela, como cantora é realmente maravilhosa!

Anônimo disse...

olá.


hahahahahaha, ah beto, esse menina aí da foto manda muito bem, e depois, é para ouvirmos a música dela, hehehehehe...

muito bom teu texto.

ah, e me desculpe pela demora em responder, mas é que a Brasil Telecon me abandonou, hahahahaha


sorte e luz.

Jana Lauxen disse...

Eu conheci a Amy antes de conhecer a música da Amy.
Cansada de tanto ouvir falar na tal cabeludinha encrenqueira, resolvi dispor alguns minutos do meu dia e escutar a tal Rehab, que tanto falavam.
Carajo!
Fiquei bege.
É absurdamente bom!
Hoje, escuto sempre, virei fã.

Agora, é uma pena tudo que ela faz contra ela mesma.
Penso que da próxima vez que quiserem enviá-la para a reabilitação, ela diga
yes,
yes,
yes.

Abraço
:)

Robson Schneider disse...

Maravilhoso post Beto...
Sim que ela viva e descubra que se ama... não necessáriamente nessa ordem.
Abração

Silvares disse...

Infelizmente não me parece que dure muito mais. Está a desfazer-se cada dia que passa e, como você faz notar, já não resta muito até desaparecer no ar. Ficará a voz dela, a ecoar por aí...

Douggie Russano' disse...

falou tudo e nao esqueceu de nenhum detalhe... voce eh 10, asuhasuhaus, Sou fa da amy, acho que um dos maiores (acho que todo fã pensa isso)...

Beto Canales disse...

Nada disso Douglas, eu sou o maior... hehehe

Vâmvú disse...

Lindo post, Beto. Emocionou-me até.
Sou super fã dela também. A voz e o swing que ela tem são impressionantes.
Nunca me ocorreu compará-la a Piaf (justa comparação por sinal), mas sem duvida nenhuma está ali, lado a lado com essas grandes divas que já passearam aqui pelo nosso planeta (Janis, Billie e algumas poucas outras) e que nos deixaram tantas maravilhas.
Falou tudo desse gênio da voz que é a Amy.
Mas, como é de se esperar mesmo, infelizmente, todo grande gênio artista morre cedo.
Rimbaud estava certo mesmo, o artista queima no fogo de sua própria arte. Só espero que tenhamos a sorte de Amy ainda nos presentear com mais algumas maravilhas, antes que se vá.
Abração