Não é por acaso que o conto que dá título ao livro, inicia com a frase“creio que estava sentado meio de lado e não vi a vida passar”. Soterrados por uma época onde ter é mais do que ser, o risco é passarmos a existência perdendo oportunidades, lembrando, só na hora da morte, o que se deixou de usufruir.
Muito já se falou no artista como ‘antena da raça’. O autor de ‘A vida que não vivi’ merece essa denominação: captou e nos retrata a tragédia moderna de criar, todo santo dia, uma sinistra oportunidade para a destruição da alma. Talvez a redenção se encontre na personagem de ‘Paloma’: sua vida não está à venda, apenas seu corpo. É muito tocante a imagem dessa mulher — Bartleby redivivo — que consegue recusar a aparência.
No final da leitura, só podemos agradecer a Beto Canales: bom não teres vivido essas vidas. Excelente o fato de pensares, teres te mantido íntegro e em condições de elaborar os contos deste livro. Oxalá sejamos merecedores de tal oferenda."
Juarez Guedes Cruz