Nossos tempos

Certa vez ouvi de um colunista que ele mantinha dois textos sempre prontos, para quando desse um "branco". Prevenido, pensei. Mas hoje, do jeito que as coisas andam, isso não é mais necessário.
A informação é tão ampla, o bombardeio tão sortido, que não falta assunto, ou pauta, de maneira alguma. Aqui no sul, por exemplo, a secretária de cultura Mônica Leal (que veementemente apoia os bailes de debutantes - é o que dizem por aí - como manifestação cultural) frente às câmaras de TV em um choro compulsivo junto com uma "coleguinha", enquanto a senhora governadora jurava inocência, deu-me ânsia de vômito. Foi seguramente a cena mais piegas que vi até hoje. É o fim de qualquer esperança política. É o atestado de mediocridade, a diplomação da infâmia governamental.
No sudeste, a história de um menino que em nome da fé viajou durante horas pendurado em um ônibus também causou-me surpresa. Não pela criancice e falta de juízo, afinal, tratava-se apenas de um garoto, mas pela repercussão do caso e pela postura dos pais. Todos acharam lindo. Uma dádiva a aventura maluca. Em nome de Deus ou de alguma Nossa Senhora de plantão tudo é válido, permitido. Inclusive dar os parabéns a quem merecia uma séria repreensão por ter colocado a própria vida em risco. Sempre achei a religião uma coisa perigosa, usada para aniquilar, sufocar, matar, explorar e exemplos disso tudo não faltam. Mas de algum lado, mesmo que quase sem importância, vinham algumas críticas. Desta vez nada. A fé hoje em dia não somente move montanhas como também meninos. Isso tudo é lindo, ao que parece.
Ainda nesta região, no Rio, dois assaltantes matam uma pessoa e roubam a jaqueta e os tênis da vítima. Dois policiais, graduados, roubam os gatunos e deixam o corpo da primeira vítima literalmente estendido no asfalto. Tudo filmado. A explicação do advogado dos ladrões fardados merece entrar para a história: não prenderam os assassinos porque não tinham provas e os objetos da vítima eles encontraram no chão. Certo. Tudo explicado. Odeio frases prontas, mas, provavelmente, a que diz "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão" será cientificamente provada.
Mais ao norte, no estado curral Maranhão, pátio dos Sarneys, nosso digníssimo ex-presidente havia escolhido um monumento público que generosamente lhe haviam doado, para construir seu túmulo (que o use brevemente). Gente! Depois falam que o ser humano é mesquinho. Ele ga-nhou de presente um monumento enorme e, como se não bastasse essa demonstração de bondade, iria construir lá o lugar do seu repouso eterno. Imagina só a oportunidade: nós, como turistas, poderíamos visitar os Lençóis - certamente um dos lugares mais espetaculares do planeta - e o túmulo deste escritor esplêndido, o José Ribamar. É impressionante como esse senhor tem espírito público. Demonstra isso até quando trata de sua morte.
Quer saber? Estou num mau-humor danado e até aceito. Impossível estar de outra forma.
Eu queria mesmo é ter um "branco", mas dessa gente, dessa podridão, destes ...
Áh, deixa para lá... Vou chorar como a secretária, lembrando do Sarney, coitadinho...

6 comentários:

Carla Rossa disse...

vou ali cortar os pulsos (deles) e já volto.

Anônimo disse...

é lamentável

Ricardo Valente disse...

... e é... nem sei o que escrever... o de baixo tá melhor.. mais a ver.. esse aqui detona a Yeda, cruzes!

Unknown disse...

Quer morrer fica a vontade

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Ótimo texto!

Alexandre Coslei