O Sequestro do Metrô

Fui assistir, a convite de meu afilhado de dez anos, uma partida de futebol. Era sua estreia no mundo da bola e o menino estava exultante. Primeiro jogo da temporada, todos pareciam ter incorporado um espírito guerreiro, jogadores e torcida, pois o alvoroço era contagiante. Bumbos, cornetas, gritos antes mesmo dos atletas entrarem no gramado. Quando isso ocorreu, foi apoteótico. Os torcedores pareciam vikings embriagados no dia mais feliz de suas vidas. Uma festa faraônica .
Do campo, o garoto procurou-me na arquibancada - provavelmente não tenha tido dificuldades, já que eu era o único que levava um cartaz escrito "Zé Chulé, melhor que Maradona, melhor que Pelé" - e, mesmo não gostando muito do apelido, acenou com certo orgulho. Foi um momento muito importante.
Minutos depois, ainda com o jogo em andamento, ele senta no meu lado na arquibancada e imediatamente eu digo:
- Golaço, heim?
- Dindo, eu estava impedido e foi com a mão. - Eu, sem vacilar, respondo:
- Mas tirando isso, foi bonito. E mais, jogaste bem pra caramba. - Ele retruca, compreensivamente:
- Mas eu fui expulso na hora do gol, aos dois minutos do primeiro tempo, porque agredi o bandeirinha!
- Certo, mas que dois minutos, heim? Heim?
Pois mesmo sendo uma comparação horrorosa, foi mais ou menos a mesma reação que tive quando assisti a refilmagem de O Sequestro do Metrô.
A Columbia Pictures e a Metro-Goldwin-Mayer conseguiram, mesmo com Denzel Washington (excepcional ator) e Jonh Travolta (este disparadamente um dos maiores atores que o cinema já teve, principalmente em Pulp Ficcion de Tarantino) fazer um filme ruim, pobre, pior, muito pior, do que o primeiro Metro 123.
Nem os cem milhões de dólares, nem alguns bons efeitos e nem mesmo a boa fotografia foram suficientes para salvar a obra. Sabem por qual razão? O absurdo como foi dirigido. Jonh foi obrigado a ter uma interpretação medíocre. Algumas cenas beiram a patetice. É verdade que o enredo é fraquinho, o argumento ridículo, mas, precisavam deixar quase tudo no filme assim?
O diretor, Tony Scott, que já teve alguns sucessos incontestáveis em seu currículo, como Deja Vu e Estranha Obsessão, foi o maior responsável pela pieguice. Seguramente tornou-se candidato ao Troféu Framboesa mesmo com dois excelentes atores e um dinheiro nada pequeno. Ou seja, não há certeza de que bons ingredientes façam um bom bolo. Há de ter um detalhe, uma magia qualquer ao misturar a massa. Caso contrário, se seguirmos a receita com precisão, pode acontecer isso: um mau filme, que (raro eu fazer isso) aconselho, não vejam! Guardem na memória o Jonh Travolta do Tarantino e não do Scott.
Resumindo: como ocorreu com meu afilhado, Jonh foi impedido de atuar bem. Uma verdadeira injustiça e, claro, o resultado foi lamentável.
Frente a um filme desses, melhor falar em futebol. Por sinal, o time do menino perdeu de seis a zero. Mas, que fique claro, se o juiz não o tivesse expulso indevidamente, a história seria diferente e, talvez, o mundo conhecesse Zé Chulé, melhor que Maradona, melhor que Pelé.
Juiz ladrão! Diretor burro!


2 comentários:

Onofre Dias disse...

Muito legal

Zailda Coirano disse...

Olá

Dando uma passadinha como sempre pra ler seus textos (que acho fabulosos) e não sei se você já comentou esse filme aqui, mas já viu Irina Palm? Vi ontem e adorei, gostaria de ler sua opinião, se já estive no blog me diga onde... rsss
Um abraço