Sabem essas pessoas que ficam se queixando de doenças? Que tentam descrever a dor? Que sempre tem um problema aqui ou ali e os remédios, invariavelmente, fazem mal? Que pensam que as dores delas são maiores, mais intensas e mais terríveis do que todas outras? Que insistem que nada do que qualquer pessoa passou sequer chega perto do seu menor sofrimento? Conhecem alguma? Caso conheçam, não falem nada, por favor. É que sou igual (desculpe o chiste) com uma única diferença: comigo tudo é verdade. Todos esses sentimentos imaginários dos outros acontecem no meu belo e castigado corpo.
Sendo bem franco, a única doença que comprovadamente não tenho é a hipocondria.
Para ilustrar: ontem mesmo acordei com uma dor de cabeça inimaginável. Se eu tivesse tempo, deveria ser levado a um laboratório cheio de cientistas para ser estudado como alguém consegue suportar tamanho sofrimento. Era como se tivessem colocado dentro do meu cérebro uma bola metálica recheada com um líquido fervente. Quando eu me mexia, respirava ou pensava, ela se deslocava dentro da minha cabeça dilacerando bilhões de neurônios e suas sinapses, não deixando pedra sobre pedra. Ou célula sobre célula. Não bastasse, quando colidia com a minha caixa craniana, além de causar uma fratura (tenho falta crônica de cálcio), parecia derramar o líquido pegajoso e quente do seu interior que escorria espalhando a dor de forma sádica e tortuosa. Tomei um analgésico. Dois, eu acho. Tenho problemas com a memória. E melhorou. O líquido quente paraceu ter ficado morno. Uma dorzinha qualquer, causada somente por uma esfera destruindo a massa encefálica, para mim não é nada. Fiquei mais tranquilo, quando, bingo! Meu estômago. Os analgésicos causaram uma crise estomacal inédita no quesito sofrimento. A sensação era de alguns besouros vivos, daqueles grandes e duros, dentro do estômago, expelindo dejetos azedos e empurrando-os para cima, fazendo-os atravessar o esôfago e a faringe e saindo violentamente boca afora. (Melhor não descrever o som e o cheiro). Corri para a farmácia e tomei um remédio para o mal-estar. Passou, é verdade, em alguns poucos minutos. Meu único azar é que devia ter cafeína na fórmula e aí fiquei elétrico. Não vou dizer que parecia estar ligado na tomada. Mas parecia. Tornei-me um robozinho. Meus músculos doiam como nunca em razão do esforço. Não conseguia parar quieto, não conseguia parar. Ficava em movimentos compulsivos o tempo todo até que, controlando com uma das mãos a tremedeira da outra, peguei um calmante, um dos fortes, ou dois, e tomei. Pronto. Trinta minutos depois eu estava calmo e "dormindo acordado", como um zumbi, tendo pesadelos assustadores, daqueles de colocar o Freddy Krueger no jardim da infância contando histórias. Claro que adormeci profundamente e, depois de algumas horas, despertei - não poderia ser diferente - com dor de cabeça. Acordei lembrando daquelas pessoas que reclamam de tudo. São mesmo umas chatas. Se imaginassem o que eu passo, calariam para sempre.
Bem, como sou forte mas não sou de ferro, vou logo tomar um analgésico. Ou dois.
Pelo menos hoje estou bem melhorzinho do que amanhã.
Dedicado à Gislaine.
5 comentários:
fiquei com dor de cabeça; hehe
Que chiste, hein? Tb sou assim. Não sei se você fala de si mesmo, mas pode contar comigo pro grupo de pessoas que sentem todas as coisas do mundo. Só não tenho dor de cabeça. Mas todo o resto me acompanha.
Sendo bem franco, a única doença que comprovadamente não tenho é a hipocondria. (Beto Canales)
Esta frase vou levar comigo.
Beijo (no coração) que é pra sarar. =)
Não estou a sentir-me nada bem...
Ahá, mas eu tenho um problema que vocês não tem: ninguém acredita nos meus sofrimentos, o que só faz aumentar minha lista.
Ganhei???
Demorei para aparecer mas cá estou, e não foi por uso de remédios, o mal maior foi a preguiça, até para tomar remédios, hehehe.
Gostei demais. Um hipocondríaco e um bêbado sempre negam sua condição.
Ótimo..
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