Dezembro! com ponto de exclamação


É matemático: depois de onze meses ele aparece, há uns vinte séculos, de forma certeira e absoluta, anunciando que logo logo vamos errar os cheques. Dezembro! Este mês merece um ponto de exclamação.
Eu ainda fico espantado quando ele chega. Mesmo com todos os avisos de que está próximo, como um monte de velhinhos barbudos vestidos de vermelho, luzinhas piscando para todo lado e musiquinhas irritantes, não me furto de dizer:
- Nossa. O ano está terminando.
Mesmo acontecendo há mais de 2000 anos e com todos os avisos, ele ainda causa surpresa. 
Será?


É mais ou menos como chegar no banheiro, ou mictório (parece que "banheiro" em alguns lugares significa o que realmente insinua a palavra, algo como quarto de banho), e fazer aquilo que fazemos várias vezes ao dia desde o nascimento, xixi, e dizer assustado:
- Nossa! Tá saindo um líquido amarelado do meu corpo... Será que isso é normal?
Às vezes, tenho a impressão que mentimos para nós mesmo. Não é surpresa que o ano acabe, assim como não é surpresa urinarmos. Mas, mesmo assim, continuamos demonstrando fortuitamente nosso espanto com o que é certo (exceto, talvez, em 2012 que parece que o mundo terminará).
No mínimo interessante. Até porque trata do contrário do que costumeiramente fazemos, que é mostrar conhecimento mesmo sem tê-lo. Sei o que é isso. Dia desses vi uma minhoca se retorcendo no chão e afirmei categórico:
- Tá sem cabeça. 
Um amigo de meu filho contestou:
- Como tu sabe que é a cabeça?
E eu, sem titubear, respondi:
- Sou o maior especialista em minhocas que existe. Sei tudo sobre elas.
Pronto, caso encerrado.
Se numa conversa entre várias pessoas ninguém falar mandarim, eu falo. Fluentemente. Nome de plantas: caso não tenha nenhum botânico por perto, sei de todas. O popular e o científico. Época de floração, tipo de raiz, tudo. Em qualquer situação em que ninguém sabe nada, qualquer um pode afirmar o conhecimento sem ser desmascarado. Esse é nosso perfil.
Brincadeiras a parte, o natural é a pessoa  "impressionar" pelo conhecimento e não pela ignorância. Essa surpresa natalina, que demonstraria exatamente o "não saber", me causa estranheza. Ela diverge de nossas características fundamentais.
Existe a possibilidade de charminho, algo tipo "to nem aí", ou o desatento casual, como "me distraí pensando na grandeza do universo e nem reparei", mas, sei lá, tantas e tantas pessoas mentiriam por esses motivos simplórios?
Enfim, mais um mistério que talvez também ajude a colocar a exclamação em dezembro! Melhor nem especular sobre isso, porque tem respostas que o melhor é não saber. A ignorância, muitas vezes, é uma dádiva.
Falando nisso, já passamos da metade do mês e eu nem havia percebido.
As questões sobre o universo estão tomando muito meu tempo...



2 comentários:

the dear Zé disse...

é aquela coisa do eterno retorno, como um ciclo viciado em ser igual a si próprio, minhoca a morder a própria cauda (e minhoca tem cauda?) como um falatio autoinfligido, uma aflição. ou sei lá...

abraço

Silvares disse...

É, a palavra "banheiro" tem curvas misteriosas. Também pode designar aquele homem que, na praia, vigia os banhistas... o português não precisa de acordo ortográfico. É estranho de qualquer maneira!