Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios

O cinema brasileiro é lento. Mesmo no auge - acredito que estamos atravessando o melhor momento da história - nosso cinema demora. Essa é a expressão fiel: nosso cinema demora. É bom repetir porque esse artifício, a repetição, é usado frequentemente, contribuindo para que nossos filmes demorem a acontecer, junto com outras "técnicas" não menos agressivas, como a inclusão de exaustivas cenas desnecessárias, absolutamente fora do contexto e que nada contribuem para o desenvolvimento da história. É como se em um poema tirássemos a palavra que desse sentido a um verso, e colocássemos em seu lugar uma que oferecesse uma rima rica, mesmo sem sentido algum. A forma jamais deve ser mais importante que o conteúdo. E, quando isso acontece, a chance de estragarmos um filme é gigantesca.


Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios não chega a tanto. É - apesar das tentativas para que ele não acontecesse, pelo menos parece - um bom filme. Dois fatores contribuem absolutos para isso: o enredo, que apesar de ser batido e comum sempre é intrigante (uma prostituta que é "salva" e tenta mudar de vida em um novo lugar) e Camila Pitanga, que está magnífica no papel da protagonista. Ela consegue estar linda e feia, desejável e detestável, sagaz e quase moribunda conforme a história de Lavínia, sua personagem, vai desfilando na tela, contada através de uma boa e curiosa montagem.
Os outros atores também não deixam a desejar, mas, ficam menores perto da atuação de Camila, que esbanja uma sensualidade selvagem, com cenas tão fortes que quase sente-se o cheiro do sexo, do suor.
A direção poderia ter evitado a inserção das cenas de belas paisagens amazonenses - que serviriam como um "descanso" ao espectador, algo completamente desnecessário -  e outras cenas que tentaram fazer uma espécie de protesto contra o desmatamento, principalmente, que são precipitadas, foras do contexto e inócuas, e ter deixado somente a história, o enredo, e Camila, claro, que o espetáculo seria melhor. Muito melhor. Mas parece que todo cineasta brasileiro é obrigado a rezar pela mesma cartilha. Aí, então... Paciência.
Como recomendo esse filme e o classificaria como indispensável para quem gosta da sétima arte, não pretendo dissertar sobre pontos que prejudicariam a ida ao cinema ou em assuntos técnicos, mas, outro detalhe, além da bem feita montagem e da direção um tanto confusa já referidas, merece uma nota: a fotografia. Ela é magnífica. O fato de termos um belo lugar e uma bela Camila não tira o mérito desse lindo trabalho. Além disso, a cena inicial do filme, apesar de também bela, deve ser deletada para melhor "degustação" do que virá em breve. Vocês notarão que, ao final do filme, terão esquecido o começo. E quando forçarem a memória, perceberão o quanto a cena inicial é desnecessária. Talvez ouçam por aí que é um "simbolismo", ou algo assim. Sei! É bom usar esse atalho quando não se sabe explicar algo.
Enfim, boa Camila. Bom cinema!

3 comentários:

Onofre disse...

O título é maravilhoso

Silvares disse...

Muito longe destas bandas.
Aqui estreou "Os capitães da areia" com críticas pouco elogiosas mas também ainda não vi. Os filmes brasileiros têm, para mim, um problema, tenho uma certa dificuldade em compreender o que dizem os actores. Falamos a mesma língua mas não é fácil apanhar o som do português do Brasil.

"wetabax", num momento de sono... disse...

retornou um velho amigo do cinema chamado "montagem atemporal". O filme vai e volta para/do passado e o diretor acha que isso tem uma dramaticidade maior, que eu particularmente considero medíocre. Por último, não tirando o mérito da história, esse filme não existe. Ele parece mais com um book da Camila, para talvez a partir de então virar atriz internacional. Como portfólio, é um excelente filme. Acontece que portfólios geralmente tem entre 10 a 15m de duração, e esse filme é bem maior que isso. Definindo rapidamente: um filme de atriz.