Não critiquem o Cauby


É muito grande nossa necessidade de ídolos. Precisamos mentir para nos sentirmos seguros. Aqui no sul, por exemplo, colocamos glórias em uma guerra (duvido que qualquer uma tenha) e comemoramos apesar de termos sido derrotados. Traímos, matamos, fomos covardes, perdemos e mesmo assim a festejamos. E por quê? Porque precisamos disso. Nossos ídolos são imunes a tudo. Pode ser desde um pedaço de madeira representando a imagem de algum santo até um cantor de comportamento comprometedor ou um piloto de corridas. Não interessa, repito: precisamos deles. Andamos por quilômetros atrás de uma estátua, por vezes de joelhos ou com os filhos fantasiados de anjos, da mesma forma como choramos por meses a morte de Airton Senna (um piloto que certo dia venceu e colocou uma bandeira do Brasil ao vento pra zoar um amigo sobre futebol), ou reverenciamos a Cazuza (ele mesmo, que tudo de bom que produziu na vida foram algumas letras muito boas, além de alguns porres, orgias e inúmeras drogadições) como fossem um exemplo a seguir. Creio que por essa cultura é que a crítica - pelo menos a quem nos identificamos, gostamos ou votamos, é proibida.
Infelizmente este comportamento é transferido para a política. E falo da esquerda, que conheço um pouquinho melhor. Mas antes, um esclarecimento: nosso governo, quando eleito, eu chamava de Governo Lula, que era - ou deveria ser - de essência socialista. O de hoje, chamarei de Governo Inácio, que é esta fórmula estranha que está aí. Pois o que vinha afirmando é que parece não nos ser permitido criticar o Governo Inácio, caso tenha votado nele ou, mais grave ainda, caso seja do PT. Creio que da mesma forma como deve-se elogiar o que há de bom - e não é pouca coisa - deveríamos ter a obrigação de criticar o que há de ruim - que também não é pouco. Mas não acontece assim. Inácio (ou seu vice) vão à TV e dizem com todas as letras: - Isso que está acontecendo no Brasil é um absurdo... ou: - os juros neste país são uma extorsão - como se fossem oposição e não tivessem responsabilidade sobre o que falam. Seria mais ou menos eu bradar: "que texto mal escrito este, que coisa horrível (o que provavelmente seja verdade)" como se a obrigação de arrumá-lo ou produzir uma crônica melhor não fosse minha - e nada de críticas a eles. Isso beira ao ridículo, mas não se fala nada. Ou nosso competente ministro da Saúde, Temporão (poderia ser Temporada - para nosso bem), afirmar em horário nobre que não vai falar o que pensa sobre um assunto de saúde pública por que a mãe dele o xingou. Nem Inácio o demitiu e muito menos falou-se a respeito. Tudo normal: uma carola intervém em um assunto de saúde pública por ser mãe de ministro e nada acontece e nada se diz. Poderia citar inúmeros casos, como o Genuíno, a dançarina e tantas atitudes idênticas as da direita, que são comuns hoje em dia, e passam "desapercebidas" pela opinião dos petistas e simpatizantes. Sempre fui de esquerda e a impressão que tenho é que vou cada vez mais para lá. Mas é um engano: todo o resto está indo para a direita, eu estou no mesmo lugar. Esse salvo-conduto aos erros dos que elegemos às críticas, colocam esses que ficam em silêncio muito perto da direita. Uma distância assustadora de tão pequena. E as conseqüências não são imprevisíveis. São catastróficas.
Ando com saudade de xingar alguém, mas agora que meus leitores cresceram 400% - agora são cinco - é melhor ficar quieto, afinal posso atacar algum ídolo de alguém. Melhor falar mal do Bush, que é de fora, mas, sei lá, melhor não... a 4ª frota vem aí!
Putz, estão cerceando minha liberdade, mas, para o bem da minha consciência, vou continuar com minhas críticas (e os elogios) ao Inácio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Textos com esse conteúdo deveriam estar disponíveis nos jornais de grande circulação. E continue criticando o Governo, por favor.