Caixinhas: nossa redenção.


É bom escrever. Sobre coisas grandes e importantes, então, melhor ainda. Morte, vida, amor, sejá lá quais forem os faraônicos temas, é bom e fácil. Depois que descobri que cronistas mentem (Maite Proença e Mentiras) - não que seja meu caso - ficou ainda mais tranqüilo. Um tema destes com direito a uma maquiadinha na verdade é um abraço. Mas e os assuntos, digamos, menores? Claro, sem exagero, nada de "cutículas: remover ou não?" ou "a função da unha do dedo mingo do pé esquerdo", mas algo como "A importância dos cursos que ensinam a fazer caixinhas". Pode até ser engraçado, mas conheço uma renomada profissional da área da psicologia, com dois livros publicados e o terceiro a caminho, com duas especializações e algumas dezenas de outros cursos e seminários, artigos publicados no exterior e coisas do gênero, que participou de um curso para fazer caixinhas. Se uma pessoa com essas qualificações freqüenta, é sinal que deve ter lá sua importância. Nada como os grandes temas, repito, mas também não é algo que se deva desprezar.
Nunca fiz laboratório para nada, mas antes me referi as cutículas por saber que existe um creme para elas. Isso mesmo: creme para cutículas. Sei lá, a pessoa acorda de manhã, dia ensolarado com pouca umidade, olha para os dedos e - nossa! que caos! - diz assustada: "onde está meu creme pra cutículas?"  Caso ela erre e passe o creme para cotovelos, por exemplo, sem problemas, basta pegar o creme para tirar creme - sim, por que ele existe também, e tudo resolvido. Mas escrevo isso somente para afirmar que, apesar de cutículas, unhas e cremes terem uma certa importância também, não chegam a deixar a categoria de assuntos menores, até por ser tudo muito fácil. O curso de caixinhas sim, este está alguns degraus acima.
Vejamos: há todo um trabalho. Desde a escolha do material, até a tinta e o acabamento. Primeiro há de se montar a caixinha, o que, saliente-se, requer algum conhecimento técnico. Não há na natureza uma lavoura delas para simplesmente pegarmos, então, temos que montá-las. Se o material escolhido for madeira, teremos que ter noções de marcenaria. Se for papel, teremos que ser japoneses especialistas em origami. Ferro, serralheiro. Palha, artesão e assim por diante. Só este começo requer um bom tempo e vários ensinamentos técnicos. Depois de montada, a base antes da pintura deve ser escolhida e, novamente, o mesmo problema de antes: ferro, um antioxidante; madeira, algum verniz, etc. Mais tempo. Depois a pintura propriamente dita. Aí sim começam os problemas e as peculiaridades: qual tipo de tinta? Marítima, óleo e tantas outras. Isso pra não falar da cor e do motivo, que nos levariam a incursões nas áreas da moda e da decoração. Sei não, mas acho que deveria existir uma faculdade. As universidades públicas deveriam oferecer e em cinco anos teríamos um bacharel em caixinhas. E depois as especialidades: caixinhas com divisórias, com segredo e por aí afora. Enfim, não deu certo minha experiência de escrever sobre temas menores. Este, certamente, não é um deles.
Então, com minha costumeira curiosidade, imaginando o mundo muito mais belo e cheio de orgulhosos e sonhadores estudantes, perguntei:
- Colocar o que nas caixinhas? - e eu mesmo respondi, com um sorriso como admitindo minha falta de sensibilidade em fazer uma pergunta tão estúpida como esta:
- O creme para cutícula e o creme para tirar creme, claro.
Eu sou um grosso insensível mesmo. Mas, a conclusão de tudo isso, é que há luz no fim do túnel. E parece que é uma dicróica.



13 comentários:

Anônimo disse...

ola´.

ah beto, mas que texto doce, nossa, realmente como uma caixinha dessas pode ser tão especial?

acho que é especial principalmente pela funcionalidade e pela beleza, mas também não podemos esquecer da alegria de construir uma dessas, desenvolver "coisas" faz bem para a alma, acho que como humanos gostamos de criar coisas.
imagina uma caixinha toda repartida, é um trabalho digno de um engenheiro, comparo esse trabalho ao do João-de-Barro que faz a sua própria casa.

e os cremes, bem, esses são uma loucura, nem comento sobre eles, porque hoje em dia não há mais limites para os cosméticos, hehehehe.

parabéns pelo texto mai suma vez.

sorte e luz, porque enquanto você escreve, o mundo responde.

Anônimo disse...

O que posso concluir do teu texto, com certeza, é que artesanato não é definitivamente o teu forte. Ainda bem que o curso que fazes é para escrever...
Bj
Bina

Angela disse...

Bem... o que posso dizer, para não simplificar tanto o tema, é que existem não somente as caixinhas visíveis - aquelas trabalhadas em artesanato, etc e tal - mas também muitas outras, imaginárias e depositárias das coisas mais diveras. Aliás...acho que o ser humano é um extraordinário criador de caixinhas... tem aquelas internas, onde ele supostamente (acha)guarda seus segredos,medos, desejos... e ainda outras, moderníssimas, virtuais, cada vez mais criativas, como é o caso dos BLOGS. Nelas (ou neles) deposita-se o que quiser e também é possível decorá-las: cor de fundo, pinturas, etc. Vai do gosto e da criatividade de cada um. Viva as caixinhas... Eu adoro todas elas...heheheh
Angela

Luiz Gonzaga B. Jr. disse...

É... enquanto tu trabalhas tua caixinha imaginária; outra caixinha,nada imaginária, também é trabalhada dentro do teu peito.

Cara de 30 disse...

Sinceramente? Que pergunta idiota, ahn?! É óbvio que as caixinhas servem para guardar os cremes para cutícula e o creme para tirar cremes... Já tinha percebido isso desde o início do texto! Viu como podemos mentir um pouquinho?! Como diz um amigo meu: "mentir é feio, porém, necessário".

Abraço.

Robson Schneider disse...

falando exclusivamente sobre artesanato, minha mulher é artesã e professora de artesanato... Não sou suspeito pra falar do trabalho dela pois sou demasiadamente critico, o que ela faz é de altissima qualidade. E sabe, tenho visto essas caixinhas, pinturas,biscuits, pátinas etc etc... resolverem a vida e a cabeça de muita gente com ou sem as "qualificações de sua amiga"
Grande abraço Beto

Adriano Queiroz disse...

Hehehe
Só de falar das caixinhas, já fiquei cansado. Não tenho aptidões com mini-coisinhas.
O Robson tem razão, muitas pessoas vivem disto e outras retomaram a auto-estima com trabalhos parecidos.

Abraços.

Kauana Resende disse...

Sinceramente, caso houvesse cursos de cinco anos sobre caixinhas não era de espantar, há tanta paspalhice ensinada hoje em nossas universidades! Mas elaborar algo com suas próprias mãos é mágico, ainda mais com um utilidade tão peculiar...
Acho que viajei na caixinha, me remeteu algo de surrealista, a caixinha como nosso subconsciente, infelizmente, hoje repleta de alienação e consumo atrás de consumo. É o constante pregão da mídia.

Felipe Lima disse...

Você consegue despertar a atenção do leitor mesmo tratando de assuntos menores. É um dom. Abraço.

Silvares disse...

Penso que o segredo da coisa é a nossa capacidade de nos concentrarmos no FAZER a caixinha. Enquanto estamos nisso o mundo ganha outras dimensões e o nosso lugar nele torna-se mais cómodo. É bom e agradável. Depois terminamos a caixinha e, quando olhamos para ela, bom, isso já é outra coisa. O verdadeiro problema é decidir sobre a sua utilidade. Nessa ocasião, quando temos de decidir para o que serve a caixinha, o melhor é começarmos outra...

Nem Li disse...

Oow valeu pela visita! Q bom q gostou do blog!

Abraço

Jana Lauxen disse...

Eu já fiz um curso de caixinhas!!!

Sim, tinha uns 10 anos e foi bem chato.
Hahaha, ao menos, eu achei.

Mas o texto tá muito maneiro.
Abração
:)

Vâmvú disse...

Ótimo texto, mesmo, muito bom!
Acho que to ficando redundante aqui... (rs)
Abração