O Fim do mundo


Bem,  o fim de tudo era certo, então fiz o que me pareceu mais sensato: sentei e chorei. Felizmente durou pouco meu pranto, pois minutos depois já estava com o olhar curioso, tentando ver chuvas ácidas ou anjos alados caçando humanos. Não via nada diferente, porém, sequer correria. Tudo me parecia normal, com as pessoas apressadas caminhando desesperadamente como em um formigueiro, os mais fortes fisicamente e menos intelectualmente exercendo o "legítimo e natural" ato de mandar, os motoristas sem rodeios estacionando em faixas de pedestres e coisas deste tipo. Percebi, também, que tudo continuava igual nos governos, gastando mais com seus exércitos do que em educação, com povos odiando outros povos por possuirem deuses diferentes ou não possuirem nenhum, tanto faz, com bibliotecas e museus cada vez mais escassos e inacessíveis e bancos e farmácias cada vez mais populares e freqüentados. Notei que as jogatinas nas bolsas de valores permaneciam inalteradas e que os preços dos alimentos continuavam subindo, tornando-os inviáveis aos pobres, por causa da especulação e não pela falta. Vi que pais ainda batiam nos rostos das crianças, e que estas mesmas crianças permenaceriam se drogando, e que depois elas, antes de morrer cedo, bateriam no rosto de outras ainda e assim por diante. Enfim, percebi que tudo continuava igual. Exatamente igual.
Ainda sentado comecei a chorar novamente, sem chuva ou anjos alados.

5 comentários:

Felipe Lima disse...

O pior de tudo é que eu creio que o fim é ainda mais macabro. Ainda vamos destruir muitas coisas.

Robson Schneider disse...

E termina e começa várias vezs num ciclo vicioso e quando percebemos, estamos ali e passou um tempão...
Abraço Beto

Kauana Resende disse...

Enquanto alguém ainda comover-se e pensar sofre os caminhos desenfreados desse mundo capitalista e louco, se alguém ainda esperar anjos alados, certo que o mundo pode até acabar, mas pelo menos não morrerá sem nenhuma sensiblidade. Muito bom ^^

Cadinho RoCo disse...

Tem hora que o melhor a fazer é ignorar tudo, absolutamente tudo.
Cadinho RoCo

Beto Canales disse...

e chutar o balde, Cadinho.