11/11 - 10/10 - 09/09 ...


Fui ao encontro do vento e ele estava mais forte que eu: caí e machuquei. Fiquei deitado olhando o céu escuro e rápido, sentindo um frio danado e um desamparo ainda pior. Com o tombo para trás, bati a nuca em uma pedra - meu travesseiro, agora - e escorreu o líquido quente e vermelho regando musgos verdes. Queria que uma câmera focasse meu olho, com a pupila enorme, e fosse se afastando rapidamente, mostrando-me deitado no meio do nada, das pedras, dos musgos, encantado, ainda olhando para o céu com olhos "esbugalhados".
Como o vento e as nuvens o tempo também foi rápido e creio que dormi. Quando abri novamente os olhos, estava na mesma posição, com os musgos verdes e sem vento algum. Somente o nada tomou conta de mim. Se a mesma câmera voltasse, ela mostraria somente as pedras. Eu era então, nada. Devo ter ido embora com o vento e só ficou meu resto, que apodrece.
Este é o sonho de minha morte - e desculpem o chavão - não a morte de meus sonhos, que agora é somente um: paz.
Nunca mais irei ao encontro de nada e talvez continue sem lutar. Não sou guerreiro e guerra é coisa de estúpido. Morro eu, mas não o que sei. Morro eu, mas não o que fiz. Morro eu, mas não o que quero. E basta um sopro para morrer, como num sonho.
Não preciso, portanto, que me matem.

17 comentários:

Jana Lauxen disse...

Ó morte,
tu que és tão forte,
que matas o gato,
o rato
e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar.
Que meu corpo seja cremado,
e que minhas cinzas alimentem a erva
e que a erva alimente outro homem como eu.
Porque eu continuarei neste homem,
nos meus filhos,
na palavra rude que eu disse para alguém que não gostava.
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...

Vou te encontrar
vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar
esperas só por mim.
E no teu beijo
provar o gosto estranho
que eu quero e não desejo,
mas tenho que encontrar.
Vem, mas demore a chegar,
eu te detesto e amo morte,
morte, morte
que talvez
seja o segredo desta vida.
(Raul Seixas)

A pior morte é aquela que mata o homem que continua vivo.

Súper-texto querido.
:)

Beto Canales disse...

A velha tônica: o blog onde os comentários são melhores que os textos... Genial, Jana, não conhecia...

(Sou daqueles chatos que quando vai em algum bar/pub com música grita no primeiro minuto de silêncio: Toca Raul...)

Angela disse...

Bah! Esse texto está "profundamente profundo"...
Angela

Nem Li disse...

Putz...Que locura.
Muito boooom.

Felipe Lima disse...

A morte nem me parece tão assustadora agora.
Abraço, Canales.

Blog Dri Viaro disse...

Puxa que foto mais triste né, o texto tb, mostra realmente que ser guerreiro desta forma é estupidez

bjs

Cara de 30 disse...

A palavra guerreiro já quis dizer tanta coisa e, hoje, tem um significado tão diferente do sentido real dela...

Guerreiro vem de guerra, é aquele que a faz nos campos, nas cidades, em qualquer lugar. Guerreiro mata para não morrer. Mas acaba morrendo depois. Se não morre durante a guerra, morre quando sai dela...

Hoje, um guerreiro é somente um cara que não desiste das coisas... Mas esse não seria "o papel" de um perseverante? Guerreiro mata, perseverante não. Eu não quero matar ninguém, por isso também rejeito o rótulo de guerreiro.

Até pelo fato de que os guerreiros que morreram nas guerras, talvez, quem sabe, ainda não tivessem ficado eternizados em seus filhos. Enfim, o mundo de um guerreiro é triste...

Silvares disse...

Rest in peace (R.I.P.)...

Anônimo disse...

lindo, perfeito, sensacional camarada, senti-me coberto de musgo também, me vejo verde agora, e olha, que bacana, que visceral.

"sombras de seda escondem teu corpo
comprimem teus pêlos, percorrem teus cantos
nuvens escuras escondem o céu
teias tão puras formando um véu
beleza sobre o véu
tristeza escondes o céu
beleza sobre o véu
tristeza escondes o céu

pele da pele da pele de Deus, conserta, profana a vontade dos ateus
nada separa o bem e o mal
pele é tecido e carne é mortal

beleza sobre o véu
tristeza escondes o céu
beleza sobre o véu
tristeza escondes o céu

isso parece replicantes, me senti no ceub da ufrgs.

sorte e luz.

Anônimo disse...

opa, só faltou fechar aspas, hehehe

Adriano Queiroz disse...

Gostei.
A morte é um assunto que me apetece.

Abraços.

Cami disse...

E eu que tinha medo da morte, agora ficou até mais doce morrer!

Que texto hein, cara!

Bjs!!!!!!

Anônimo disse...

vem buscar o teu Selo. vem.


sorte e luz.

Anônimo disse...

Bela texto. Bela visão sobre a morte e a continuidade.

Sobre os guerreiros: quando o homem não consegue encontrar saídas pacíficas precisa ir para a guerra. Este paradigma foi criado em tempos ignorantes e repetidos até hoje, sempre existe saídas pacíficas, para qualquer tipo de analogia ou metáforas sobre a guerra, mesmo quando falamos do dia-a-dia de hoje.

Abraços.

Regular Joe disse...

Muito, muito interessante mesmo, essa sua visão. Acompanhei intensamente, palavra por palavra, e foi como se eu sentisse tudo isso.
Há pouco terminei de reler A Morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstói, que é uma outra forma de encarar o momento fatal.
Esse momento me atrai, envolve-me, e você conseguiu me envolver nos quadros fortes que pintou.
Um grande abraço do João!

Germano Viana Xavier disse...

Esse texto transformado para a forma poética ficaria ainda melhor, Beto. É uma sugestão. Mas ele tem vida própria mesmo assim.

E é forte.

Um abraço.
Continuemos...

Vâmvú disse...

Lindo texto.
Que morte não é pior do que a morte de algo que não morre, ou a morte que não é real, que apenas anula, que apenas faz sobrar o nada.
Vou dar mais umas voltas por aqui, to gostando...(rs)
Abração