Estão acontecendo aqui em Porto Alegre, em razão da 54ª Feira do Livro, diversas palestras com autores de todos os estilos. Quando o convidado, mesmo que seja um excelente escritor, não é do mundo televisivo (leia-se Globo), aparecem pouquíssimas pessoas. Quando é, um pouco mais; nunca, porém, reunindo uma multidão. Fico pensando no que é preciso, sem contar futebol e mega-shows como estrelas da constelação popular, como cantoras-coxas-grossas-de-fora e duplas sertanejas, o que é preciso para que se reúna 1000 pessoas.
Bons autores, como dito acima, não são capazes. Nem os bons e populares. Atores creio que também não. ( No festival de teatro Porto Alegre em cena, mesmo com preços bastante acessíveis e aquela fila - sempre bem-vinda - para as pessoas em que ainda assim os preços eram caros entrassem sem pagar, sobravam lugares) Um grande filme, com toda a mídia e poder dos gringos, não reúne nem cem pessoas no cinema. Um ato político, nem de longe. Experimentem organizar um - contra ou a favor - a qualquer governo e vejam o resultado: meia dúzia de gatos pingados. Outro ato qualquer: defesa das baleias, em defesa da lei Maria da Penha, contra o aborto, a favor do aborto, qualquer coisa. Duvido que cheguem a pouco mais de algumas dezenas de pessoas. O que fazer para reunir 1000 pessoas, então, sem futebol ou mega-shows?
Asha, uma adolescente negra, foi mandada para longe dos pais para se safar do campo de refugiados onde nasceu. No caminho, foi estuprada por três homens. Seu pai, zeloso, queixou-se às autoridades. Resultado disso tudo: a menina foi acusada e condenada à morte. Como? A pedradas. Lapidação - existe uma palavra para isso. Foram a um estádio de futebol, enterraram a menina até o pescoço e, depois que um caminhão chegou trazendo as pedras, cerca de 40 homens fizeram o que a lei mandava. Alguns até tentaram protestar mas algumas rajadas de metralhadoras e a morte de outra criança foram suficientes para acalmar os ânimos. A anistia internacional protestou, todos protestaram. As duas crianças morreram. Isso tudo foi na Somália há poucos dias atrás. Lembrei de duas coisas: temos (nós, todo o planeta) que ajudar a África e todos devem obedecer a lei. Claro que estou ironizando, mas quero abordar este tema em outro texto.
Escrevo sobre esta estupidez não pelo fato em si, que seria suficiente para em um julgamento de civilizações nos condenar ao extermínio sem direito de defesa, mas pelos números. Afinal, são eles e por eles que tantos morrem e outros tanto matam: uma menina violentada, três agressores, duas crianças barbaramente assassinadas, nenhuma prisão, quarenta executores e, pasmem, cerca de 1000 nas arquibancadas, sei lá, torcedores? Assistentes? Ou somente sádicos, podres, merdas e todos os adjetivos pejorativos que existem?
Aqui vivemos e estes somos nós. Esse é nosso povo: ser humano. Uma legião que para reunir 1000 pessoas basta que se jogue futebol, tenha uma gostosa de coxa grossa rebolando ou que matem uma menina a pedradas. Mesmo porque ela já estava deflorada mesmo.
A propósito, o termo Asha representa verdade, justiça e ordem (zoroatrismo).
Será que teve "hola" no estádio? - Creio que sim. Mas a anistia internacional protestou. Poxa, agora fiquei mais calmo! Ainda bem.
Vou vomitar.
18 comentários:
Beto, as pessoas não estão ligando para muita coisa, exceto futebol, mulheres de coxas grossas de fora e apedrejamentos.
No nosso Brasil, aliás, ninguém liga pra nada. Ninguém se mobiliza pra nada... Morrem milhares de inocentes vítimas de todos os males existentes nessa maravilhosa(?) cidade em que resido. E alguém faz alguma coisa? Vez ou outra vejo um movimento de passeata contra a violência... VEZ OU OUTRA!
O menino foi arrastado pelos bandidos que roubaram um carro... PASSEATA! A menina foi baleada quando chegava à estação de metrô e morreu... PASSEATA! Uma senhora foi assassinada por assaltantes quando não tinha dinheiro para dar-lhes... PASSEATA!
ATIFUDÊ COM PASSEATA! Todos os filhos das putas que fazem isso não estão nem aí para essas passeatas! Eles vão continuar matando e fazendo exatamente o que já fizeram!
Me revolta a INÉRCIA do brasileiro... Depois vem com aquele babaquice de "sou brasileiro e não desisto nunca!"
Desculpe o desabafo... É que o seu texto me despertou algo... Desculpe pelas palavras e não ficarei chateado se deletar o meu comentário.
Ahn... Ia esquecendo... Tem um meme e um selo pra você no meu blog, ok? Abraço.
Beto!
Infelizmente habitamos o país das bundas e do futebol, tudo isso comandado pela hipnotizante tranmissão da globo.
Então, é claro que,hipnotizados por ela, o povo só responde aos seus estímulos hipócritas.
Afffffffff! Isso me tira do sério!!!!
E é uma pena, porque se a literatura e as artes dominassem, o Brasil seria uma maravilha!!!!
E quando a BOndade que vc comentou lá no meu Brog, acredito que exista sim, afinal essa blogosfera no qual estamos eu e você inseridos e mais tanta gente legal que encontramos, está feita de gente boa pra caramba.
E nessa bondade vamos tecendo nosso caminho!
Se os outros não a tem, tenhamos nós!
Beijão!
Nosso povo não se manifesta, gosta de mais de entreterimento. No tocante da questões políticas, não tem haver com nossa falha educação acadêmica? Também lemos menos. Nossos vizinhos argentinos tem outra educação, lêem mais e vossas atitudes são outra.
A caso da menina da Somália é vergonhoso. Indigna.
Inté.
É, beto. Depois da vomitada, estou aqui para comentar.
Sim, o Brasil é o país das bundas e do futebol, conforme disse a Cami. E, me perdoem os que de mim discordarem, mas essa fotografia só vai começar a mudar uns vinte ou trinta anos após a prioridade governamental passar a ser EDUCAÇÃO.
Artigo primeito da Constituição: todos os cidadãos brasileiros terão ampla e irrestrita oportunidade de estudar e, para isso, os orçamentos federais, estaduais e municipais separarão verbas condizentes para tal.
Que tal?
Na verdade, eu entendo que, com educação, as pessoas terão juízo esclarecido para a saúde e demais áreas importantes que possam transformar essa realidade infame que vemos por aí.
Enquanto aguardamos esse despertamento, façamos a nossa parte, como o passarinho que leva em seu bico, água para apagar o incêndio da floresta: passemos aos outros tudo de bom que temos, fazendo aos outros o que gostaríamos que nos fizessem.
Mas quanto aos demais países desse planeta, que ainda não sabem quando é dia ou noite, bem... vai demorar mais um pouquinho, ainda. Um dia aprenderão.
abraços
É preocupante mesmo, pessoal. É incrível, mas todos temos razão. Sempre afirmo que quando todos ou nenhum tiverem a razão a coisa começa a ficar muito perigosa.
E continua a saga dos comentários melhores que os textos. É muito bom isso.
é por isso que digo:
Blogosfera no poder.
que é para ver se as pessoas melhoram o nível dos seus interesses.
espetáculo de texto Beto.
sorte e luz.
Putz meu..Foca pra caraléo...
O foda é que todo mundo prefere não ver esse tipo de coisa como o da menina. prefere fingir que não existe esse tipo de coisa.
É o pão e circo.
O futebol e as mulheres,o carnaval,as bebidas e tudo está ótimo.
Infelizmente é isso.
Acho que a humanidade sempre teve esses extremos entre o bom e ruim. A questão é que agora tudo é mais visível e rápido. Aconteceu na Somália, na Conchinchina e no mesmo instante já sabemos e nos chocamos. As coisas ruins avançam mais do que as boas??? Não sei. Parece, pelo menos, que aparecem mais... e tem muitas delas bem do nosso lado. Se olharmos bem pode ser até que percamos o sono...
Angela
Talvez haja na Somália histórias reveladoras de uma humanidade grandiosa que não chegam até aos noticiários. O mundo é demasiado grande para toda a bondade que existe e inexplicavelmente pequeno quando se trata de maldade. Por cada relato que chega até nós há milhares que ficam por contar. Bons e maus. Gostava de acreditar que os bons são muitos mais. Sinceramente gostava de acreditar...
Os bons são tímidos, escondidos, envergonhados. Os maus, audazes, corajosos, incisivos.
É a segunda vez, desde que cheguei sem ser convidado nessa blogosfera, que digo isso: Vamos vomitar, vomitar e vomitar...
Vomitemos, pois.
Abç, caro Beto.
Professor,
venho aqui agradecer tua presença lá no Clube de Carteado e desejar que continuemos uma amizade forte em letras e palavras.
Já linkei teu blog.
Um abraço forte.
Germano Xavier
Mundo doente
doente de nós
humanos
desumanos
Abraço, Canales.
Continuemos...
Beto
Parece que coisas do tipo "jogos mortais" "massacres da serra elétrica" e coisas do mal gênero se tornam fichinhas perto das atrocidades da vida real... Não sei quem inspira quem?! Concordo com o afobório, acho que os blogs, música, a arte no geral... se tornam ferramentas de protesto e concientização de que podemos ser
criativos e... humanos.
Abraço com cara de clichê
leia-se conscientização ...
Olha, aqui em, Bele´m é o mesmo, a feira do livro da amazonia reune um monte de gente, mas para ver os globais, e cantores, um monte de gente que nem se quer ler a obra dos cara mas peal famosidade vão assisti-los lotam as salas, e o festival de teatro é igualzinho sempre tem lugar. Mas quer saber, eu acho melhor assim, essa separação, esses eventos são para quem gosta, os que não gostam (in)felizente não vão.....é mlehor eles ficarem assistindo o mengão pela t.v.
Teu texto me pegou como uma pedrada (ops).
E concordo com tudo, exceto quando diz que "aqui vivemos e estes somos nós".
Não, Beto.
Estes são eles.
Nós somos diferentes.
E você sabe.
Grande abraço!
:)
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