Verdades e outras mentiras

Pois mentira é coisa que abomino. Já escrevi sobre ela em um texto aqui mesmo, no dia em que conheci a Maitê Proença. Desde então, tenho contato com ela ( ela a Maitê - não a mentira) quase que diariamente. Mas não pensem que é pela minha beleza. São interesses, digamos, intelectuais. Ela é escritora e excelente poetisa e eu um apreciador de bons poemas. Provavelmente por eu não ter competência e ela uma aptidão nata para criar, surgiu nossa relação, digamos, poetizada.
Sobre isso que pretendo falar. Poesia. Eu considero o mais difícil dos gêneros literários, tanto faz se lírica ou épica, curta ou longa, metricamente perfeita ou não. Dia desses li uma escrita por uma amiga -  de apenas 18 anos - que quase levou-me às lágrimas. Era uma verdadeira epopéia lírica ricamente detalhada em um texto com uma sonoridade espantosa, linda. Uma música aos ouvidos. Não bastasse, um texto forte (como prefiro) e situações de fechar os olhos. Ou para sonhar, ou para esconder-se, ou para envergonhar-se. Depende, claro, de quem estivesse lendo. E isso me incomoda, apesar de estar na primeira turma. Verdades ou mentiras. Em poesia, sabe-se das permissões que os autores tem, inclusive gramaticais, para expressarem-se da maneira mais apropriada. Em qualquer texto, obra, tudo que está escrito é verdade, pelo menos na cabeça do autor. Ponto final. As pessoas não tirariam conclusões como "se isso aconteceu, é o fim do mundo" ou "nossa! pura sacanagem" ou, pior ainda, "coisa de gente louca" se simplesmente curtissem a leitura.  Não interessa se o texto mostra o que aconteceu, irá acontecer ou nunca acontecerá. Importa o que está ali, a história, o sub-texto, o prazer das descobertas, o apreciar de vidas e amores e, em alguns casos,  uma mensagem qualquer. Se um pintor faz um quadro de uma pessoa usando um modelo, e outro de uma imagem que só existe em sua maginação, faz alguma diferença para quem vê? Não. Pois em poesia é isso. É indiferente ser ou não real. O que interessa é o poema. Esse que falei acima, pouco importa como ela chegou àquelas palavras, o que realmente interessa é sua beleza, a menifestação artística, a musicalidade, o encanto...
A arte não foi feita para panfletear ideais políticos, para expor posições ou dogmas, para arrebanhar incautos ou embretar néscios. A arte foi feita para ser arte, sem mentiras e sem verdades. Ela não precisa de função ou outra coisa qualquer. Ela não precisa de nada. Nós é que precisamos dela.
Desculpem encerrar rapidamente. Telefone.
A Maitê.
De novo.

13 comentários:

Adriano Queiroz disse...

"A beleza salvará o mundo" escreveu Dostoievsky em "O Idiota".
A conexão que as pessoas fazem com a arte faz diferença na maneira que ela enxerga o mundo, claro que existem casos que a mistura deu errada, como ocorreu com o Hitler.
Mas acho que nós percebemos a sensibilidade de quem consegue se emocionar com um poema, com uma música, um quadro, um livro ou um gesto.
Esta frase do nosso colega Russo é extremamente estética e expressiva, mas por alguns mal interpretada.

Abraços.

Letícia disse...

É bom mesmo atender ao telefone já que a Maitê está ligando pra você. Nunca li um poema dela sequer. Já que o título de seu texto é sobre verdades, a minha verdade é que leio poucos poetas. É um gênero absurdamente belo e não me atrevo a escrever um verso - nem sob tortura. O que me incomoda e é um fato que alguns amigos já sabem, é que, por ler poucos poetas (Homens ou Mulheres), tenho a minha lista de favoritos. E leio em silêncio ou andando ou em voz alta porque poesia é a pura manisfestação da linguagem que, por ser atropelada de sentidos, não requer ou pede ou necessita de uma interpretação. Sofri muito em aulas de Teoria Literária ao apresentar seminários. Odeio picotar poemas e falar sobre a vida do autor. Aliás, todo tipo de texto literário me causa espanto. Então fico quieta e aprecio. Sofro ao ler um poema e sofro ao dobro, quando alguém me pede pra analisar. Porque o poema já é a análise. E sim, nós precisamos da Arte.

E seu texto é.

Beijos.

Silvares disse...

Disse Picasso que "a pintura é uma grande mentira que nos ajuda a compreender um pouco melhor a verdade." profundo. Mas, macaco velho, o mestre terá acrescentado " na medida em que formos capazes de a compreender." A vida é assim mesmo, cada um a vive de maneira diferente imaginando que os outros a deveriam viver exactamente dessa maneira. Mesmo que não compreendam nada.

Robson Schneider disse...

Já recebi um email dela... desculpe mas ela é tão volúvel. hehehehe


Ps: A mentira é que ela é volúvel.

Anônimo disse...

Todo mundo quer estereotipar, meter pitaco, na vida e nas palavras, e foda-se se ambas não são deles, o que eles vêem é só o dedo alí pitaqueando pra lá e pra cá,rs.

Poesia é sentimento, e quem coloca formas corretas, nestes?rs

E se é para dizer a verdade, então, odeio rimas de " amor é uma flor que causa dor" hiuahiuhauih, quero morrer.


Beijos, para você e para a Maitê [ lógico!]

Cara de 30 disse...

Ahn... Não tenho muito a falar sobre a Maitê ou sobre poesias...

Mas poderia discorrer páginas sobre verdades e mentiras. Coisas que até Deus duvidaria, meu caro. É... Mas deixa isso pra lá.

Tá sumido, hein?! :(

Vâmvú disse...

Beto, encerrou rapidamente mas de forma magistral.

"A arte foi feita para ser arte... ... Ela não precisa de nada. Nós é que precisamos dela."

Colocou em palavras o que eu sempre acreditei sobre o que é arte.

Ótimo texto, muito bem escrito.

Abração

Germano Viana Xavier disse...

Concordo que o gênero poético é cruel. Ele dói pra nascer. E é difícil de ser lido. Mas acredito que a arte é uma expressão universal, Beto, que pode atuar em todos os espaços e ambientes. O necessário é que seu espírito de arte jamais se diminua, posto sua instância premeira.

E também nunca li um poema da Maitê. Vou procurar um aqui.

Abraço, meu caro.
Continuemos...

Anônimo disse...

tu sempre me surpreende.

parabéns.


sorte e luz.

Anônimo disse...

Segunda tentativa!
Segunda -feira!!! não há coincidências dizem.
Quero deixar aqui uma memória a ELA não a você, Ela que procuro por procurar, sem chorar a busca ou a infelicidade de não alcançar. Fico bem quando perco dias e noites pensando ELA por aqui; adormeço melhor, sorrio mais á vida e a vida me trata melhor sem dúvida, subo de autoestima, voo mais, não alto, antes baixo e lento (low and slow como tanto gostamos nos bush pilots de dizer)apreciando o pormenor das folhas e o seu dialogo com o vento.
Assim aqui post homenagem a voce por tocar ELA. Inveja? nada disso, antes congratulação de encontrar uma ponte, um elo, uma mão que me mostra que ELA não é assim Lotús Azul impossivel de cheirar.
Qunado lhe falares, sopra-lhe ao ouvido que por ai há quem a AME como é, que a ADORA como se faz sentir, hoje bem mais que ontem.
Por mim aqui fico, de olho no seu blog, que me vai ensinar muito por certo, mais da vida, mais do sol, mais deste azul que nos separa. Fico aqui por ELA, não por si, mas aprecio a companhia de quem a tocou. Aprecio São Paulo não por vendedor de tendas que foi, mas por tocar Jesus, por ser uma ponte, um elo; como você.
Fique bem, beijos para ELA :-*
Maverick

Jana Lauxen disse...

"A arte existe para que a verdade não nos destrua".

Ah!
Manda um beijo meu prá Maitê e diga para ela aparecer para um chá.
Daqueles!
Hahaha.
Beijoca
:)

JLM disse...

É como diz uma frase em um filme recente q vi:

"Não sei o que é a poesia, mas a reconheço quando a ouço." - A. E. Housman

1 abraço

Anônimo disse...

Xiça!
So reparei agora na data desse assunto ai Beto, bem no dia do meu aniversário. Não há coincidencias apenas crenças de.