Recebi um mail de um leitor de Angola (por sinal, os acessos de Luanda são os mais longos - detalhe que muito me orgulha - seguidos de Lisboa e somente depois Porto Alegre) um texto bastante curioso. Ele explica que acompanha o Cinema e Bobagens há algum tempo e disserta sobre poder e mentiras - temas recorrentes por aqui. Em síntese, faz um apanhado geral para dizer que as duas coisas andam juntas, da forma mais nefasta possível, como um moto contínuo. Ou seja, um alimenta o outro. É extremamente interessante a argumentação. Ele mostra de forma hábil que a mentira leva ao poder e o poder à mentira. Coloquei a foto do nosso amigo aí acima porque ele representa isso com perfeição.
Repetições a parte, tem uma lógica perversa nisso tudo, principalmente se admitirmos o que parece ser óbvio: o poder corrompe. Meu leitor diz que a "graça da onomatopeia", na qual demonstrei meu domínio absoluto em uma crônica, colocando uma (piu, piu, piu) completamente fora de contexto, como agora, foi um exemplo contundente, pela "simplicidade e profundidade".
Como sou exibido e me senti "grandão", vou por no meio do texto, vejam só - três ovos batidos em neve e misture com a farinha, peneirada. Mexa tudo até a massa ficar uniforme - uma receita de bolo. Mas com um detalhe: não sei fazer bolo. Isso é poder, na maneira mais fiel e primitiva. E, para completar a teoria, coloquei este parágrafo somente com a intenção de ilustrar e reforçar o que eu já havia dito e não por ser exibido ou estar me sentindo "grandão". Menti, portanto. E agora o pior: isso não me inocenta de ser exibicionista ou estar deste ou daquele tamanho. Não é lógico? É! Não é perverso? É! Além de assustador. Muito assustador.
Lembrando ainda que o poder corrompe, dá vontade de sair correndo rua à fora, com os braços erguidos, gritando qualquer coisa contra o capitalismo. Ou contra o socialismo. Contra qualquer coisa, afinal. Contra tudo. Correr muito, gritar muito e saber que, no final, de nada terá adiantado. Estamos de mãos atadas e não é para um fetiche. Seremos sodomizados por nós mesmos.
Enfim, meu caro leitor africano, concordo contigo. Talvez se nos ajudássemos e um desamarrasse as mãos do outro, tudo pudesse ser diferente. Mas não somos capazes, não fazemos isso, nós prestamos serviços ao invés de ajuda. Claro, isso custa. E estando de mãos amarradas, não temos como pagar. Então, resta-nos torcer para que não doa muito. Podemos, também, crer nas mentiras como se fossem nossas - e coloque numa forma untada, leve ao forno médio por cerca de quarenta minutos. Depois de assado, polvilhe açúcar de confeiteiro - além de imaginar que somos poderosos. Afinal, o poder é bom. Muito bom!
16 comentários:
Beto, o poderoso... eheh
estamos num beco sem saída...
muito bom mesmo.
esse beto arrenbenta.
hahahaaha. sorte e luz.
Deus se fantasia de poder quando quer ferrar com um homem.
Fato.
Beijo Beto.
todos nós, em muitos momentos, exercemnos isso que tanto abominamos.
estamos de mãos atadas, mas quem disse que não fomos nós mesmos que as atamos?
é muito complicado,rs.
beijos beto,
Todos temos poder, mas sempre queremos o dos outros, que aqui não vem ao caso. Poder e corrupção é um jogo de lógica, como tantos outros que participamos. Abração, polêmico Beto!
putz!
gostei das suas posições... e as do africano tb...
PARABÉNS!
mas, quem sabe essa receita não dá certo? (ou será q a receita é não ter receita?)
abração
>>
oi
hihi
esse último coment aí foi meu...
>>
a ordem é misturar, eu gosto dos seus textos pelos zigues-zagues mesmo. pelo descompasso cheio de estilo. fora a linearidade! bjs
Eu me questiono se o nosso poder não é de tamanho igual ou até maior do que o de muitos senhores barrigudos por aí. Me pergunto se a gente não se sente impotente por pura e concreta covardia. Porque ainda que minimamente nós conseguimos mudar pequenas coisas, mesmo que com esforço gigantesco.
Poderíamos, por exemplo, decidir botar aquela garrafinha de água mineral vazia na bolsa ou na mochila ao invés de atirá-la ao chão. Parece bobo mas FAZ muita diferença.
Então, a gente adora falar. Descer a lenha? Ôpa, neguinho, nasci pra isso! Mas daí a tomar alguma atitude... bem, deixa pra depois, né? Depois da novela.
Parece meio antipático mas só queria expor que a gente não é vítima. Fazemos escolhas todos os dias. O mundo em que vivemos é resultado delas.
E, sobretudo, podemos fazer pequenos milagres no dia a dia e ignoramos as possibilidades.
A gente tem poder também. Tem, eu sinto. Eu sonho.
Chefia, lembrei imediatamente do filme Estômago, não sei se você já viu, em meio a receitas de bolos, o poder absoluto que corrempe absolutamente.
Grande abraço.
Poder corrompe....
o poder tem esse poder de conrroper até o mais certinho ser humano. talvez por causa da ganancia absurda quem sabe...
E se "conhecimento" é poder? Então são os católicos que têm razão quando afirmam "bem-aventurados os pobres de espírito pois é deles o reino dos céus". Serão eles a conseguir todos os empregos na aviação civil. Está dito!
É... você é polêmico e um ótimo humorista. =)
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