Velho é velho!

Gosto quando os leitores se manifestam. Uma parte deles deixa comentários e outra manda e-mails concordando, discordando, xingando, enfim, interagindo com o que foi escrito. Algumas opiniões são extravagantes e outras tantas impublicáveis. Em geral, porém, são recados amistosos e alguns, pasmem, até com certo carinho. Um tipo em especial me chama a atenção: aquele que se detém no detalhe, na vírgula e não na frase.
Recebi um desses relativo ao último post, sobre A Mulher Invisível. Não tratava sobre cinema, nem dissertava sobre Luana, muito menos queixava-se de minha crítica um tanto dura. Falava da menor frase de todo o texto: "Nem velhos". Esta mesma. E dizia, muito educadamente, que eu não deveria referir-me assim aos velhos. Que poderia usar expressões como "terceira idade" ou "melhor idade" que ficaria mais suave e respeitoso.
Li duas vezes a mensagem. E mais uma. E ainda outra e minha opinião não mudou. Tentei entender o que meu leitor dizia, tentei estar no seu lugar e nada. Respondi discordando, claro, também muito educadamente, expondo minha opinião, que é bastante simples: se a pessoa for uma criança, e tenho que referir-me a ela de maneira genérica, como foi o caso do meu texto, farei da seguinte maneira: "a criança está brincando", por exemplo. E assim em outras tantas circunstâncias, incluindo gênero, cor e religião e não vejo problema algum. Se estiver vendo uma luta de boxe e no ringue estiverem um dominiquenho retinto e um austríaco branquelo, sem dúvida direi:
- Aposto no negrão contra o alemão - até porque conheço boxe.
Mais exemplos? Vamos lá, um daqueles que dá briga. Se eu fosse a um encontro multi-religioso e visse um cara de batina, um usando quipá e outro com roupas brancas cheia de babados, certamente diria "um católico, um judeu e um babalorixá juntos" e não vejo problema algum. Se estivesse inspirado, poderia provocar dizendo " talvez um pedófilo, um agiota e um macumbeiro" refirindo-me a inúmeros exemplos mundo afora que padres, rabinos e pais-de-santo dão o tempo todo.
Evidente que estou falando isso para provocar e sei que não se deve generalizar. Claro que em qualquer um dos casos a maioria é de pessoas descentes e honestas, apesar de eu bater frontalmente com estes também, mas isso é outro caso, outro post.
Enfim, acredito que a melhor maneira de chamar uma criança é de criança, um índio de índio, um alemão de alemão, um japa, coreano, chinês ou tailandês de china, negrão de negrão e velho de velho e creio, sinceramente, não estar faltando com o respeito a nenhum deles.
Depois de explicar tudo ao meu leitor, ele disse, novamente com muita educação, que entendia mas, mesmo assim, sentia-se incomodado. Então tornei a escrever observando que talvez fosse melhor eu usar "idoso" e ele concordou. Questão resolvida, o texto de minha última mensagem foi:

" Combinado!
Abração, meu velho."

Recebi a resposta:

"Rarara!
Abração, meu piadista"

Tenho a impressão que ganhei um amigo. E tomara que fique velho como ele. Oitenta e cinco anos de idade e alguns séculos de compreensão.

10 comentários:

Cícero disse...

SUGESTÃO de pauta: _ Festival de Teatro de Bonecos... clima festivo da cidade durante o festival, espetáculos internacionais etc. abraço!

Beto Canales disse...

Combinado!

Cara de 30 disse...

Brilhante, meu velho!

Leandro Noronha da Fonseca disse...

SUGESTÃO de pauta (já que deram uma, eu também quero sugerir): FLIP, Festival Literário de Paraty.

Beto Canales disse...

combinado tbm.

Ricardo Valente disse...

Passando... sempre bom! Abraço!

Letícia disse...

O problema é o contexto. O pessoal lê a palavra e não a história, Beto. Já passei por isso e já recebi e-mail e não lembro se respondi. Tenho memória curta. Mas o fato é que você falou e falou bem, se explicou e foi maduro o suficiente pra dizer, em outras palavras, que "O texto é seu e você escreve o que quiser. Quem quiser que leia". Se você não quis dizer isso, eu teria dito. Afinal, uma palavra no meio de tantas é apenas um detalhe.

E sumi porque São João por aqui é a maior festa do ano. =)

"Beijo no coração", Sr. Editor.
hehehehehe...

Anônimo disse...

opa, mais um heimmmm, hahahahaha.

beto, tu tem uma identidade cara. tem mesmo, e é das boas.


sorte e luz.

Anônimo disse...

quase 86...

João Carlos P.

Felipe Lima disse...

Essa foi uma questão que sempre teve minha atenção. Sempre fui da banda que não vê maldade em chamar velho de velho, negro de negro, etc. Essa onda politicamente correta que de um tempo pra cá vem invadindo a coloquialidade das nossas conversas é um tanto hipócrita.