Brasil: ame-o ou deixe-o

Não sei bem o que aconteceu comigo, mas acredito que tenha cansado. Faz várias dezenas de anos que escuto elogios ao nosso país e a nossa gente, e evito pensar que é tudo engodo.
Mas vejo o contínuo de uma repartição pública roubar um clipe, e alguns andares acima o diretor roubar milhões. Vejo os bancos agirem com má-fé, não só em juros exorbitantes, mas em tarifas camufladas, em cobranças indevidas, em práticas desonestas sem estarem sozinhos, entretanto. Junto, segue o Banco do Brasil, orgulhoso de voltar a ser o maior sem nunca tentar ser o melhor, orgulhoso de ser imenso cobrando juros que constrangem até o pior dos agiotas, tratando clientes pobres como adversários e os ricos como reis, liderando a farra dos lucros bilionários em um país pobre. E pensar que ele deveria ter cunho social. Vejo as empresas de telefonia humilhando diariamente os consumidores e cobrando uma das tarifas mais caras do planeta, e o governo terceirizando o que seria sua responsabilidade com as tais agências reguladoras, que nada mais fazem além de se corromperem e se beneficiarem daquilo que deveriam fiscalizar. Vejo empreiteiras comprando políticos como quem compra cigarro, barato e maléfico. Vejo funcionários comissionados e políticos enriquecerem como mágica. Vejo televisões guerrearem em horário nobre não em busca de dignidade ou qualidade, mas em busca de pontos no ibope, de dinheiro. Vejo essas mesmas televisões manipulando, faturando, enganando e rindo da cara de todos. Vejo juízes corrompidos, tornando um dos judiciários mais demorados que existem em algo vicioso e caro. Vejo senador gritando que tem dinheiro para andar de jatinho, outros arquivando processos contra ladrões e outros ainda fazendo vista grossa. Vejo no palanque o Inácio abraçando Collor. Não só uma vergonha para o presidente mas também para o senador que, afinal, estava certo quando afirmou que o tempo é o senhor da razão. Vejo eles se unindo para defender Sarney. E vejo todos felizes e sagazes, e o povo tomando cachaça e comendo farinha com o bolsa-esmola. Vejo presídios lotados e os ladrões aqui fora. E vejo mais e mais e não vejo ação nenhuma, e não vejo futuro.
Cansei. Nunca roubei, ou enganei ou qualquer coisa assim e sou diariamente saqueado. Não levam só meu pouco dinheiro, levam minha esperança. Não suporto mais viver em um país onde o judiciário, o legislativo e o executivo são paquidermes corruptos, onde o empresariado é sem-vergonha, onde o açougueiro vende sebo com carne, onde o pedreiro engana, onde um técnico de futebol ganha meio milhão. Onde fecham bibliotecas e mais de 90% da população, com a barriga cheia de farinha, nunca entrou em um museu enquanto dizem que tudo está bem. Se me perguntarem, direi que era ainda pior. Mas isso não releva, não satisfaz. Não quero isso que aí está. Todos roubam. Somos um povo desonesto vivendo em um país desonesto. Um lugar onde devolver o que não lhe pertence vira manchete de jornal.
Desculpem mais este texto mal escrito, mas na verdade não é uma crônica, é um vômito.
O que quero demoraria muito para contar, mas, resumo em uma só palavra: decência.
Marina, morena Marina, não se pinte.


9 comentários:

Anônimo disse...

olá.

bah, betão, tu fez eu lembrar da minha monografia. tive de fazer um capítulo falando disso.

usei inclusive essa frase aí.
acho que eu cansei cara.

putz. mais uma vez, um baita texto. é por isso que leio todos e comento só alguns, para que não me torne redundante.

disse que faz um tempo que teus posts promovem o pensar. reafirmo.


palmas pelo texto.

sua tela está quase pronta, mas estou bolando um jeito de acondicionar a coisa, hahahaha.

enfim, logo que resolver esse problema, envio ela pra ti.

sorte e luz, sempre.

Jana Lauxen disse...

Ah, Beto, meu amigo: que verdade dura e dolorida esta que descreveu aí.
Eu ainda me vou daqui.
Porque se ficar, esperando para ver o que muda, corro um risco muito sério de me acomodar ou, muito pior: passar para o lado de lá.
Nadar com os tubarões não dá mais.

Um beijo.

Biba disse...

Beto, querido, também não suporto mais o aviltamento que sofremos dia após dia, minuto após minuto. Seu texto diz tudo.

Beijão
Carpe Diem!!

Ricardo Valente disse...

Sabe, vivemos num mundo tal MATRIX. É o sistema. Difícil fugir dele. Ganhar? Não pague imposto pra ver... mesmo assim não deixemos de ser NEO, até a morte! E vai a pergunta: Vale a pena?

Anônimo disse...

Que belo texto. é uma pena,amigo, que esta bandalheira vai continuar....

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Felipe Lima disse...

O sentimento que me resta em relação ao nosso país é de pessimismo. Um pessimismo avassalador.

Lais Castro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lais Castro disse...

Puxa Beto, o meu sentimento em relação ao nosso país é bastante semelhante ao seu! Eu não penso que tudo está bem! Eu VEJO que muita coisa não está bem! A cada dia, em cada esquina, crianças na rua com cara de fome, idosos aposentados pedindo esmola no sinal... pessoas e mais pessoas catando lixo, para dali tirar o seu sustento e de suas famílias...
Esse, decididamente, não é o país com o qual sonho!