Se tenho uma virtude é a de não mentir. Mesmo quem não me conhece pessoalmente sabe disso. Meus textos confessam por mim. Fiz esse preâmbulo todo para contar algo que aconteceu comigo semana passada. Ainda não sei bem o que foi, mas, no mínimo classifico como estranho ou mesmo inacreditável. Possivelmente tenha acontecido em razão da morte de uma pessoa, digamos, conhecida, por esses dias. Talvez um pouco mais. Talvez uma pessoa bem conhecida defina melhor. Fico impressionado com coisas assim.
Aos fatos: certa noite cheguei em casa cansado. Como ainda não havia ninguém, as luzes estavam apagadas. Entrei na penumbra e fui logo sentando na primeira poltrona que tinha na frente. Fiquei ali, no lusco-fusco, tentando recuperar as energias que o dia havia me roubado, olhando para o lustre sem luz. Somente um facho luminoso entrava da rua através do vidro ao lado da porta, e clareava os objetos o suficiente para que fossem vistos. Isso também acontecia com o tal lustre que, sem explicação alguma, começou a balançar. Fiquei intrigado e imediatamente corri os olhos para as duas janelas que ficavam na minha frente. Fechadas. Torci o corpo para espiar atrás. A mesma coisa. Tornei a olhar o lustre que teimava em balançar graciosamente, em uma velocidade que parecia lenta. Ele ia e vinha como se esperasse por meus olhos. Não lembrei de sentir medo e, talvez por isso, levantei e acendi todas as lâmpadas. No caminho até o interruptor, concluí que com a claridade tudo estaria resolvido.
Fiat Lux! Voltei à poltrona para ver o lustre inerte, como deve ser, e, para meu espanto, ele balançava ainda mais rápido. E mais e mais. Olhei para outro que fica há poucos metros e permanecia parado. Lembrei do medo e o senti. A luz acesa começou a formar sombras gigantescas que invadiam parede, chão e teto em um ritmo alucinante. Corri até o interruptor e as trevas voltaram. Com ela a paz. As sombras cambaleantes não me assustavam mais, afinal, eu estava em uma. O lustre começou a emitir um ruído que também ia e vinha. Sempre igual, sempre feio. Estava agora em pé, com as mãos na cabeça, sem saber o que fazer. Pensei em tudo, inclusive no que não creio. Devo ter dado uma risada tentando impressionar sei lá o que (ou quem) e ela parece ter ecoado em meus próprios ouvidos. Eu estava só. Consegui um segundo de sensatez e resolvi sentar novamente. Tornei a fitar o lustre bailarino no compasso lento novamente. Ele não gostava de luz, creio.
O medo deu um lugarzinho ao bom senso. Eu tinha que resolver aquilo antes que os outros chegassem. Pessoas entrando em casa e vendo aquela cena maluca poderia causar problemas. Outros problemas. E maiores. Mas como resolver o que não se conhece? O que não se acredita? O que - para meus parcos conhecimentos - não existe? O que não é provável? Que é absurdo? Eu falei mesmo em bom senso no começo do parágrafo?
Pois tudo que começa tem um fim. Recostei-me na poltrona, olhei novamente o lustre dançarino e pensei em voz alta:
- Não quero isso!
Sabe o que aconteceu? Parou. Na outra noite e nas noites seguintes, sempre que entrava em casa dava uma olhadinha, e ele lá, quietinho como um bom lustre deve ser, sem balanço algum.
Maluquice minha? Até pode ser. Mas junto com a loucura, uma lição: nós mesmos somos nossos piores fantasmas.
Seria bom que minha rede nordestina balançasse daquela forma.
6 comentários:
A vida é cheia de fantasmas... é só olharmos no espelho as visões distorcidas de nós mesmos.
=)
Gostei daqui...
Eveline
Toma cuidado e vai a um médico. O parkinson começa assim. Grande abraço e boas festas.
o mais importante é dominar o medo... tudo mais pode acontecer...
Beto,
a partir do momento que você deu uma 'ordem' para o seu companheiro 'lustre', ele imediatamente parou, não foi?
Então, tudo se explica assim, desta forma: eu acredito em você, acredito que viu mesmo o 'balanço' do lustre...
e quando reagiu, ele fugiu de você!
Resultado: fantasmas existem sim, mas NÓS os permitimos (ou não).
Gostei do seu blog, e voltarei outras vezes.
Hoje é Natal, e eu te desejo Paz neste dia lindo, e 2010 cheio de tudo que necessita e que vem esperando, esperando...
Boas Festas!
Lembrou-me, já que o tema é cinema e bobagens (o que não é bobagem nesta vida?), o grande "Atividade Paranormal". Perturbador.
VISITAS. Conheço esse filme Beto...
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