Desculpas


Do que somos capazes? Sempre pensei que fôssemos de quase tudo, mas, pelos últimos acontecimentos, mudei para tudo. Da mesma forma como alguns de nós possuem um desprendimento fantástico para praticar o bem, outros possuem a mesma dedicação para exercer o mal. Com que facilidade somos capazes de estender a mão a alguém passando por uma necessidade. É impressionante. Mas essa mesma mão é capaz, também, de esmagar o cérebro de uma criança para ver o que tem dentro. E o estranho que não somente nós, pessoas limitadas de carne, gordura, pele, ossos e líquidos, mas também as instituições que criamos, tornam-se portadoras dessas bipolaridade. 
Poderia continuar o texto falando desse tal de Bruno que, pelo menos até agora, parece ter mandado matar a mãe do próprio filho para economizar uns trocados do seu salário de duzentos mil reais (U$ 110.000,00). Poderia falar do sujeito chamado Macarrão, que funcionava como o braço maldoso do chefe, fazendo o serviço sujo além de ridículas tatuagens de amor ao comandante, do menor delator que diz ter dado coronhadas na mulher ou ainda do sujeito que possivelmente tenha desossado, alimentado os cães com a carne e cimentado os ossos da prostituta. O que me levou a começar este escrito, porém, foi uma pequena nota que li sobre o avanço da aids no continente africano. Ele é assombroso. Geométrico. Por isso, pretendo falar de outros bandidos, ainda piores que o goleiro e seu time da pesada.
Não que as atrocidades da turminha aí de cima - que, por mim, poderia ficar em trabalhos forçados até à morte, inclusive o marginal de dezessete anos - não mereça páginas e mais páginas de xingamentos, mas a quase desapercebida notícia lembrou-me do sumo pontífice, aquele mesmo que tem um sorriso de botar medo nos mais corajosos, acoberta seus camaradas pedófilos, usa roupas como se estivesse na idade média e chapéus como se estivesse em um circo, ou, para os íntimos, Bento, o dezesseis.
Pois esse diviníssimo senhor de cabelos brancos por baixo do ridículo, esteve há poucos meses na África e, veementemente, condenou o uso do preservativo. É coisa do demônio, disse. Proibido pela igreja, portanto. Coisas do capeta não combinam com coisas do santíssimo.
Expliquem-me, por favor: e todos que se contaminaram depois disso, todos os que morreram, todas as crianças que ficaram órfãs, todos os coitados que creem (e eles são milhares) nesse sujeito? Serão somente um número (ou nem isso) em uma estatística da ONU? Mas o palhacíssimo não deveria protegê-los do diabo? Quem mata ou provoca a morte, a destruição da família, promove pendemias aniquiladoras, não é o próprio Belzebu? Esse papel não está invertido? Afinal, que é o demônio?
Eu sei o que vai acontecer. No futuro, algum ridiculíssimo bento quarenta e dois, irá na janela sei lá das quantas e pedirá perdão em nome da igreja, pelos erros do passado. Algo como "ops, desculpa se matamos milhares e milhares. Foi sem querer". A sinceridade e o sentimento de pesar será o mesmo de quando nos desculpamos por quebrar um copo na casa de um amigo. Essa será a parte boa. Eis a bipolaridade. Ponto final.
A propósito, eles, os malvadíssimos, já se desculparam pelas Cruzadas?
Somos mesmo capazes de tudo.
E os bandidíssimos, ao que parece, um pouco mais.
Genocídio não é coisa que qualquer um consegue.

3 comentários:

Morcego Vermelho disse...

Pois é Beto, a irresponsabilidade do Vaticano parece não ter limites. Lavam as mãos em nome de um ridículo padrão civilizatório que pensam ser possível alcançar com seus necrosados princípios religiosos. As religiôes são um capítulo a parte na história da humanidade. Penso que ficaríamos melhor sem elas.
Por outro lado, a imprensa tradicional cada vez mais se notabiliza por estabelecer pautas a partir de critérios duvidosos. Causa espécie o destaque absurdo para a novela Bruno em detrimento de um assunto da relevância do avanço da AIDS no continente africano. Mas a imprensa "livre" é assim mesmo: máxima espetacularização para valorizar o espaço destinado aos anunciantes. Simples assim.
Grande abraço.

Salete Cardozo Cochinsky disse...

Uffa, até que enfim encontro um conterâneo!
Concordo em gênero e grau com o teu texto.
Vamos lá, continuaremos a escrever sobre os atuais sintomas da péssima saúde mental que vem se alastrandro, crescendo e deixando-nos a mercê de barabáries vindas de todas as intâncias da sociedade e das Instituições.
Um abraço

Silvares disse...

Se deus existe mesmo esse Bento vai virar picadinho para o almoço de algum diabo de 5ª categoria.