O escritor que virou macaco e a miséria


Fico espantado com o ser humano. Não querendo fazer um trocadilho infame, o que mais somos é "desumano". E a prova que isso é uma verdade incontestável, é que somos avarentos, ruins, perversos e sádicos com todos, incluindo nós mesmos. Nos autodestruímos com uma habilidade impressionante.
Quando falo em miséria, neste texto especificamente, não penso naquela em que faltam as coisas básicas para a sobrevivência, como comida, água, etc. Refiro-me a falta de confiança, na mesquinharia particular, na falta de atitudes para elevar aquilo que nos diferencia dos outros animais: a civilidade, o caráter e, principalmente, a arte. Estamos próximos a termos somente o polegar opositor nos diferenciando de um orangotango. Estou erroneamente generalizando, afinal, isso acontece com alguns de nós. Então, por favor, quem não se enquadra nessa categoria, que chamarei de pré-símio, pare de ler aqui mesmo. Pararam?
Pronto, agora somente nós. Portanto, língua solta.
Vários acontecimentos levaram-me a este texto. Mas o fato derradeiro deu-se com um "escritor", a quem avisei que comentaria a seu respeito sem mencionar o nome. Resumindo: na ABC Livraria Virtual, para qualquer um colocar sua obra à venda basta comprar outra. Ou seja, adquirir arte, literatura. Depois disso feito, caso o comprador queira e seja um autor, pode colocar seu livro lá e beneficiar-se deste mesmo processo. Se pensarmos pelo lado comercial, o sujeito compra um livro e pode vender dezenas, enfim, inúmeros exemplares. Ou seja, um excelente negócio. Se pensarmos pelo lado humano, o sujeito estará adquirindo arte, valorizando aquilo que ele mesmo faz, prestigiando um colega de letras. Existe algo de ruim nisso?
Pois o estimado pré-símio escreveu-me perguntando se poderia colocar seu livro à venda sem adquirir um exemplar. Educadamente respondi que a princípio não, mas, claro, poderiam existir exceções, como a pessoa definitivamente não ter dinheiro, ou estar impossibilitado de ler, ou ainda não ter ninguém a quem presentear, etc. Recebi, quase instantaneamente, a resposta afirmando que ele não se encaixava em nenhum dos casos. Ou seja, tinha dinheiro, lia e vivia numa sociedade, acompanhado de outras pessoas, mas que não mereciam ser presenteadas. Claro que retornei perguntando, então, qual seria o motivo para a não compra. Afinal, o que leva uma pessoa a não investir nela mesma? No seu trabalho, enfim, em sua criação?  Eis a resposta que estou até agora tentando digerir:
"Quero que os outros leiam o que escrevo, e não eu ler o que eles escrevem".
Preciso contar o final da história? Não, certamente não. Até porque ela não aconteceu ainda. Isso vai ocorrer quando o pré-símio tirar o prefixo e virar um primata mesmo. A incrível história da involução: "O Escritor Que Virou Macaco". Não é um ótimo título?
Curioso, também, tratar-se de um novo autor. Não alguém que vendeu milhares de cópias mundo afora.
O nome disso é soberba, é burrice. Eu, infelizmente, não suporto este tipo de coisa. Fico irritado e não deixo por menos. Combinei com o pré-símio que dou todo o direito de resposta a esta postagem, sem problema algum, desde que não o faça anonimamente. Fico esperando.
Acredito que estamos, boa parte de nós, indo para um lugar sem saída, um lugar redondo com nada aos lados, exceto nossos defeitos e ruindades, onde ficaremos andando em círculos até nosso fim. Desculpem, leitores, minha indignação. Mas os soberbos merecem.

Nota: Está perto do final o prazo para envio de textos para a Coletânea Crônico! Participem.

7 comentários:

Anônimo disse...

Eu disse que isso aconteceria... nem se irrite, vai acontecer algumas outras milhares de vezes. Relaxa! O Eu sou o máximo e o resto é lixo faz parte do pensamento quase geral.

Letícia Palmeira disse...

Eu estou passada. Isto é uma abominação corriqueira. Mas não suporto isso. Por que não deu um fora nele? Eu daria. Pois vou dar.

Acontece que escrevo também, Querido Amigo Escritor que não quer ler ninguém. E sabe a boa nova? Não é só você que não quer ler ninguém. Acredita? Boa parte da população brasileira só assiste TV, meu caro. Autores que estão por cima da carne seca sequer olham capas de livros de novos autores. Críticos não discutem acerca de nossos livros. E, quanto aos amigos, todo mundo quer um livro de presente e ninguém quer comprar. Preferem ir ao shopping. E acredite: as pessoas que vivem perto de você não devem ser diferentes. Seja escritor. Largue esta porcaria de soberba e compre livro até de João Ninguém. Seja também um leitor antes de abrir a boca pra dizer que quer ser lido.

E é isso.
Alguém precisa lavar a roupa suja.
Eu lavo.

Anônimo disse...

Sem comentário.

Ricardo Valente disse...

Beto, que adianta se indignar? Cada um, cada um e que ele vá procurar a sua turma. Para que estender o negócio? O massacre já é tão grande e assim passa a vida. Então: aqui é nossa tribo!
Abraço

Zélia disse...

Beto,

Eu já estive aqui há muito tempo. Não sei porque não voltei. Talvez, saiba, sim. Acredito que tudo acontece no seu tempo. Agora, ventos me trazem aqui e me deparo com isso.

Isso que eu não sei definir. Como pode um "escritor" não ler outros escritores? Será que os autores que participam da Livraria Virtual não escrevem linhas dignas de serem lidas por essa figura? Sendo assim, como a tal figura acha que eles serão capazes de ler sua "fabulosa obra"? Sim pois acho que é isso que se passa na cabeça da figura.

Nossa!!! Sabe o que é isso além do que vc citou? Egoísmo. Triste o mundo por conta de pessoas como esta.

Letícia me falou da livraria. Vou visitá-la.

Saudações!
Zélia

Alex Antunes disse...

Chato... deu sono. ZzzzZzzzzZzzzzZzzzzzzZzzzzzZzzzzzZZzzzzzzzZzzzzzz

Ricardo Valente disse...

Dá-lhe, Beto!
Refiz lá... obrigado!