À direita (e ainda o senador Paulo Paim)


Tenho medo de vocês.
Algo que sobrevive há décadas sem um arranhão sequer, ou melhor, com vários arranhões, mas sem nenhuma enfermidade capaz de causar algum abalo considerável. Estratégias que não mudam e continuam eficientes há várias gerações. Um crescimento admirável, mesmo que sob vários mantos. Uma infindável relação íntima e perniciosa com o poder. O ainda em uso discurso básico e as técnicas de confronto imutáveis. Todos esses itens causam-me espanto. E não somente isso: causam-me medo. Muito medo!



Percebe-se o crescimento acinzentado da direita não somente no voto do senador Paim no coronel Renan Calheiros (mesmo que ele e o não menos coronel Sarney presidam o Senado Federal há 10 anos, exceto quando o patético Garibaldi Alves assumiu pelo impeachment de Renan), mas também na defesa que tal voto, (de Paim em Renan)  tem entre alguns de seus eleitores.
Lembram do “rouba mas faz”? Pois, guardando-se as devidas proporções, é isso que vem acontecendo. Imaginemos a Madre Teresa de Calcutá. Ela, tão boa, tão prestativa, pega um revólver e dá um tiro na cabeça de alguém. Ela deixaria, pelo seu passado de luta pelos pobres, de solidariedade, de empenho em ajudar o próximo, de ser uma assassina? O morto ressuscitaria pelo passado imaculado de seu algoz? A resposta para as duas perguntas é não. Mesmo com todo o passado lindo e exemplar que ela teve, nessa hipotética situação ela não deixaria de ter se tornado uma assassina. Claro que isso não significa que ela não devesse ser julgada, onde esclareceria os motivos e talvez os atenuantes fossem maiores que o crime, mas, na essência, a morte e o assassinato continuariam.
Saindo do campo dos sonhos malucos e voltando para o real mais maluco ainda, o senador Paim, apesar do seu passado em favor dos aposentados e do posicionamento pelo fim do voto secreto (temas que não passam longe de ser obrigação do senador, até pelo seu discurso de campanha) votou em Renan Calheiros, o mesmo do impedimento e que ainda responde a processos por corrupção, dando continuidade ao curral em que se transformou o Senado.
 O que se fez de bom no passado, não autoriza, não justifica e muito menos atenua os erros do presente. Essa defesa do senador Paim, querendo “compensar” seu erro pelos seus acertos, sempre foi uma lamentável artimanha usada com frequencia pela direita, principalmente na época pós ditadura militar. O que deve ser explicado e explicitado, não é o que fez de bom, fatos já sabidos, mas sim o que há por trás desse famigerado voto. Votou com o partido? Isso só piora a situação, pois a maioria dos votos foram dados a pessoa Paim, e não ao partido. Se esse fosse realmente o caso, um sujeito honrado abandonaria (veio à calhar essa expressão) o “bando”, e não abandonaria seu discurso.
Falando nisso, na época de chumbo, lembro com clareza de um slogan usado pela milicada: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Isso não é praticamente a mesma coisa do que, por exemplo, em uma discussão sobre política, que a reação a uma crítica mais veemente seja: “vai embora do país então...” ou, pior ainda, “teu lugar não é aqui”...
Devo ir embora por discordar? Devo ser exilado por não aprovar? Devo ser calado por reclamar? Devo ser excluído por pensar diferente? Isso tudo já não aconteceu por aqui? (como disse e ainda diz a música: afasta de mim esse “cálice”). A violência, não a dos gritos da empolgação ou de um punho cerrado que bate em uma mesa na hora da discussão, mas a violência das palavras, mesmo que faladas em um cochicho, é tão arrasador como um tanque urutu no meio da rua. Infelizmente, o que chamam de centro não fica no centro. Fica logo depois, dobrando à direita.
E, por favor, não me xinguem e nem me mandem embora, mas assim está nosso país: um enorme bloco chamado centro, que abriga a quase todos, com muitos tapinhas nas costas, muita vista grossa, muitos conchavos e milhares de comissões, de pessoas e de cifras, enquanto vamos de um carnaval a outro.
Caso argumentem com o famoso “mas não melhorou?” prometo: tenho mais é que ir embora mesmo, pois definitivamente esse lugar não é para quem tem menos que uma montanha de paciência.
Dizem que quando se envelhece, vai-se indo lentamente para a direita. Eu, pelo jeito, vou morrer criança. Talvez por isso eu tenha medo.
Menos mal se fosse.

2 comentários:

Lais Castro disse...

Texto muito coerente. Eu também tenho medo!

Onofre disse...

Grande Beto. Pra um esquerdista até que tá bom haha