Soberba e outros defeitos

Lembro de uma espécie de anedota, em que dois coronéis chegam ao mesmo tempo - um de cada lado - a uma pequena ponte. O problema é que nela só passava um carro. Os dois pararam suas caminhonetes cabine dupla e não arredavam pé, trancando a passagem um do outro. Um deles, para provocar, coloca a cabeça pra fora e diz:
- To meio sem pressa, coronel. Tenho a Barsa aqui pra ler.
E o outro responde:
- Me empresta depois de terminar?
Eu falo "uma espécie de anedota" por que seria engraçado não fosse trágico, principalmente 
depois do que presenciei sábado, que foi muito - mas anos luz de vezes pior - mais ridículo do que a historinha: pois eu estava no interior de Cruzeiro do Sul (que já fica no interior do Rio Grande 
do Sul) em uma zona rural, de colonização predominantemente germânica, um lugar onde não existem indústrias e nem latifúndios e é formado basicamente por pequenos agricultores, andando por uma estrada de terra, com quase nenhum movimento. Olho à frente e vejo, em cima de uma ponte, dois carros que colidiram de frente, exatamente no meio de tal ponte, com uma violência assombrosa, a ponto de nenhum dos carros deixarem o lugar sem um guincho. Agora o detalhe: até por que o movimento nestes lugares é muito pequeno, só passa 
um carro de cada vez. Da pra imaginar o que aconteceu? - De um lado, o super -colono de todos os poderes, aquele que não pode esperar (a extensão de assombrosa obra deve ser uns 20 metros de comprimento) talvez uns 4 segundos e do outro, o seu rival nem um milímetro menos poderoso, o megacolono, provavelmente o homem  mais importante do planeta e para quem 4 segundos seria tempo suficiente para salvar a humanidade. Dá pra acreditar? Os caras vinham pela estrada, viram o outro carro - não tem como ser de outra forma-  e nenhum cedeu espaço, nenhum parou aqueles segundos para dar lugar ao outro. Nenhum foi razoavelmente inteligente e educado. Os dois estão com os carros em oficinas e com o prejuízo no bolso.
Conclusão: estamos doentes. A humanidade está em estado terminal. Essa não é uma questão de trânsito, é uma questão de vida.  A soberba destes caras é incalculável e eles não são diferentes da maioria. (Desculpem as repetições que farei a partir de agora, mas elas são necessárias). O resultado de tudo isso é que todos perdemos bem mais que 4 segundos. Bem feito pra eles. Mas o que me preocupa é que, repito, todos terminamos perdendo algo, não somente eles e, na verdade, este tipo de gente não tem muito a perder. Aí a conclusão assombrosa: todos perdem, menos eles (exceto os carros amassados). Bem feito prá nós?


4 comentários:

Desarranjo Sintético disse...

Nem fale, sei que parece que esse tipo de pessoa porque tem dinheiro acha que nada pode acontecer, e muitas vezes parece que nada acontece. E é horrível. Mas eu ainda acredito que o que aqui se faz, aqui se paga, que os deuses não dormem e tud que ele faz de ruim ele recebe em troca triplicado. É o que nos resta nesse mundo doente. Orar!

Abraços.

Fábio.

Silvares disse...

Podiam ter parado para ler o tal livrinho. Talvez agora tenham tempo para ler e, quem sabe, pode ser que da próxima vez não batam com tanta força.

Desarranjo Sintético disse...

Bom, a ignorância está em todas as partes do mundo, parece inacreditável. A era do "ter" parece que nunca irá acabar, só quando tudo explodir de consumismo. E olhe lá! Que coisa horrível achar que o mundo é seu por causa de algumas notas de papel! Ridículo!
As vezes parece que essas pessoas não sãoi punidas, mas eu ainda acredito na justiça divina. Acho que masi dia, menos dia eles pagam o que merecem.

Abraços.

Robson Schneider disse...

Ei Beto
De uma forma mais leve claro, comparado ao que vc descreveu, mas essa sensação eu tenho quando estou parado num sinal de transito pra atravessar como pedestre mesmo, e vejo pessoas alucinadas se meterem entre carros em alta velocidade, por que não podem esperar os tais minutos...isso esta ficando auto-destrutivo.
Abraço