O menino do pijama listrado

Quando saí do cinema a primeira coisa que veio à cabeça foi: o melhor dos centroavantes é aquele que faz mais golos? O melhor dos médicos é aquele que salva mais vidas? O melhor do policiais é aquele que prende mais bandidos? E o melhor dos soldados é aquele que mata mais gente?
De novo aqueles filmes que não instigam a falar sobre cinema. Motivam a falar da nossa podridão, de nossa perversidade. O nome já dá bons indícios  sobre o que trata e em que época acontece. Bem, tentando não sair chutando as cadeiras, é uma história que acontece durante a segunda grande guerra perto de um campo de concentração, de extermínio.
Um oficial com uma vida tranqüila em Berlim é transferido para uma área rural para administrar tal campo. Lá, seu filho Bruno de oito anos, conhece um prisioneiro judeu, inimigo, portanto, da mesma idade. Ocorre que o menino não tem idéia do que realmente acontece e vários conflitos surgem da nova situação. A amizade com o pequeno prisioneiro, inevitável levando em conta a solidão dos dois, surge de uma maneira que traz esperanças. Vãs esperanças. O filme mostra a monstruosidade humana de uma maneira mais sutil que outras películas, quase escondido. Apenas perto do final temos indicações visuais e auditivas das atrocidades, mas o clima tenso, o cheiro de podre, nos acompanha o tempo todo.
Em apenas 93 minutos, esta produção inglesa e norte-americana, tem momentos que beiram a genealidade. Alguns diálogos, sempre curtos e diretos, mais fiel aos germânicos impossível, revelam as mazelas e os absurdos de uma guerra. De qualquer guerra. Não há mocinhos nisso. Só bandidos e vítimas. E o que também choca neste caso, é que os bandidos também se tornam vítimas. Da própria estupidez, da própria cegueira. Um café quente com bolo não pode valer mais que uma vida. Um vinho derramado em uma farda não pode ser motivo de castigo corporal.
Definitivamente este filme entra na minha lista dos dez melhores, com honras. Mesmo com o tema tão surrado, conseguiram ares de renovação. Contaram o horrível novamente de uma forma ainda mais cruel. Para todos, agora. Diferença substancial.
Chorei mais do que devia no cinema. O mais grave é que continuo chorando e, pelas próximas décadas, não vejo razões para parar as lágrimas. Elas são justificáveis e merecidas.
Soldados são condecorados quando matam inimigos. O detalhe é que tais inimigos têm filhos e são filhos, riem, choram, caminham e sonham. E tem como inimigos o outro soldado, que também têm filhos e são filhos, riem, choram...


10 comentários:

Felipe Lima disse...

minha meta para o ano que vem é ir tanto ao cinema quanto você, beto. incrível e fantástico.

Luiz Calcagno disse...

Não queria assistir, mas você mudou minha forma de ver o filme. Vou tentar ir ao cinema na sexta. Espero que ainda dê tempo. Essas questões humanas sobre como somos decrépitos, ao mesmo tempo que guardamos um bem incrível dentro de nós, que não pomos pra fora (porque?), me atraem imensamente. Forte abraço!

PS: Vi um trailer que pode te agradar, de um filme chamado, acho que é isso, 1000 Anos de Orações, sobre um velho japonês, que vai visitar a filha nos EUA e descobre que não foi um bom pai como imaginava. E Baby Love também é muito bom.

Luiz Calcagno disse...

PS2: Feliz Natal!

Flávia disse...

Deu vontade de assistir. Mesmo.

adri antunes disse...

huahuahua, e ainda existe minâncora?? ehe, obrigada pela visita e dica, vou dar uma garimpada pra ver se encontro! ehehe
bjuuu e feliz natal!

Biba disse...

Betoooooooooo, você agora está entre os meus sites preferidos com link lá no meu blog. Quanto ao filme acho difícil que passe por aqui...

Bjus, feliz natal e ano novo!
carpe diem!!!

Letícia disse...

Quase comprei o livro, mas deixei de lado. Não sei se assistirei ao filme no cinema. Essa repetição de guerra que mata esperança, me cansa às vezes. Mas, ao ler sua crítica, o filme fica melhor.

Beijos.

E como de costume:

Feliz Natal.

Germano Viana Xavier disse...

Branca,

agora sei o porquê você me mostrou esse livro lá no shopping. Tentarei saber da história.


Beto, feliz natal.
E você só pra dar despesas, listando-nos de filmes assistíveis.

Continuemos...

Branca disse...

Visitando seu blog...bem interessante, voltarei mais vezes.
Branca.

Douggie Russano' disse...

meu eu li esse livro e é demais, tudo de bom, triste é claro, mas eh um grande aprendizado, pode se encarar assim, muito interessante, e o filme, da até pra chorar, tocante'