A Troca

Tinha ouvido de um amigo que ele iria ver um filme que precisasse de apenas dez neurônios: O Dia em que a terra parou. Ponderei que de todos, nove eram pra comer pipoca sem deixar cair e um para compreender o enredo. Pronto, me convenci: era esse filme que precisava e queria ver. E foi o que fiz, ou pelo menos tentei: 13 pilas para os gringos do Cinemark e mais sete para as pipocas deles também e, na fila, já na fila pra comprar ingresso, mudei. Devo ter passado frente a uma livraria e respirei um pouco de inteligência - maldita hora - e fui ver Clinton Eastwood. Sei que ele não faz nada ruim, principalmente como diretor e eu, mesmo não querendo nada bom, fui igual. Queria algo que não precisasse pensar, queria bater os pés no chão como antigamente, quando a cavalaria chegava. Mas mudei! Malditos ares inteligentes.
A Troca demora 40 minutos para começar. Depois disso, não pára mais. Até agora tenho cenas e diálogos na minha cabeça. É um excelente drama, bem ambientado no início do século passado, com figurinos perfeitos e fotografia excelente. O roteiro também não deixa a desejar e a direção é impecável. Percebi um erro grave, quando é mostrada uma fotografia tirada em certo momento da história, e ela é diferente. Os figurantes sumiram como um passe de mágica e naquela época não existia Photoshop, um erro terrível, por certo, mas que não compromete a obra.
Não são precisos muitos neurônios para uma boa "degustação", porém canal lacrimal é exageradamente usado. A história gira em torno do sumiço de um menino de nove anos e a incansável busca de sua mãe. Isso é o pano de frente.
Na verdade, ele trata de nós mesmos e nossas crueldades. O quanto pagamos para manter o poder, o quanto sacrificamos quem quer que seja para sustentarmos nossas benesses. Nós, e quando digo isso refiro-me a nós mesmos, pessoas como eu e você, ou o pessoal do Hamas ou algum Olmert qualquer. Nós, humanidade. Todos cometendo seus crimes enormes, que saem na televisão como um espetáculo de matança ao vivo, ou simplesmente ficam guardados na lágrima de uma criança maltratada, humilhada.
Não somos bons. Fazemos o inferno aos outros simplesmente para vivermos com mais prazeres. Não raro subjugar, humilhar alguém é a própria satisfação. Caso grave.
Eu fiz a troca: ao invés de ir ao cinema para ver alienígenas malvados serem explodidos, fui ver nossa consciência e humanidade ir para o espaço. Estou pensando em processar Clinton Eastwood por mostrar-me nosso sadismo. Provavelmente ganharia.
Um detalhe, a maior covardia de todas: Angelina Jolie usa um batom vermelho. Isso, definitivamente, deveria ser proibido.


18 comentários:

Luiz Calcagno disse...

É um filme que quero ver. Ainda não entendi como ela fica pensando que o filho não é dela... Mas não conte. hehehehee... Abraços

Silvares disse...

Esse aí está na minha lista. Hoje não digo que vá ver... talvez amanhã!

Sueli Maia (Mai) disse...

Oi, Beto.

Não apenas verei o filme mas, principalmente,a partir do que li nos quatro ultimos parágrafos, irei 'rever' meu próprio filme.
Sempre tive uma dificuldade brutal e, óbvio, com 'caras e bocas' torcidas em desdém, à obra de Sade.
Hoje, meus dois únicos neurônios, exigiram-me, menos preconceito com o marquês.Há doses de um 'sadismo' inconfesso, em mim e, isto não é um espelhamento de uma leitura equivocada, isto é uma vergonhosa constatação.
Abomino quem subjuga e humilha, sobretudo os mais fracos mas, de algum modo, também tenho minhas doses de 'arrogância-pedante' e isto é execrável de se saber.
uff... e pensar que nomeaste o espaço como 'cinema e BOBAGENS...'
Isto não é bobagem, é mesmo de uma gravidade gigantesca.
Quero processar o Eastwood em uma ação coletiva por danos morais(isto é moda)
Mas vou transferir pra ti, o valor da consulta do meu terapeuta..
Com efeito, Beto, acabaste escrevendo uma bela crítica que serviu como auto-ajuda!!!

Estou saindo do cinema, sem pipocas e sem bobagens. Mas vou'ruminando' que, em relação ao 'pano de fundo', talvez não tenhas feito qualquer 'troca' porque pareceu-me que, de alguma forma, há no 'Troca' e em nós, consciencias alienígenas, também.

Abraços,
Bendita Letícia que me indicou teu blog.

Kauana Resende disse...

Vou assistir hj! Só pelos seus comentários ;***

Anônimo disse...

Beto voce vai começar a cobrar comissão pras cadeideias distribuidoras da fita não?
Não sou de filmes, acontece quando temos filhos nos 5 e 10 anos :-S. Mas gosto de registar aqueles que nos deixam ver dois planos ou mais, se para isso estivermos disponiveis claro. Fica registado, ainda que induzida a analise subliminar.
Beto voce quer uam ideia, que tal postar ai um roteiro cinefilo com "o caminho incontornavel do ano 2008" para começar. Aquelas fitas que não dá para falhar, aquelas que fizeram alguma coisa mais que picar olho ou comer pipoca, eu diria ate aquelas que nos fizeram pensar, pelo menos ate ao dia seguinte. Por que ofilme de nossas vidas sera o que revisitamos todos os dias, por definição a nossa vida.
Vai por ai Beto, não saia do traço.
Voce ja viu que todo o mundo fala bem de voce!!! isso é mau, o desafio Beto é falar e receber contencioso :-) faz um esforço vai, atira no radical, deixa a bobagem. Fala sério eheheheheeh brincando neh.
Abraço, beijo pra ELA

Adriano Queiroz disse...

Preciso ver este filme.
Gosto da Jolie fazendo filmes de verdade. (Maldade) A boca dela é linda de batom vermelho então deve ser uma ameaça.
Não vou mais ao Cinemark, eles apoiaram o PROP 8 na Califórnia. E eu já trabalhei lá. =[

Abraços.

Letícia disse...

Angelina Jolie de batom deve ser bom de ver, mas tenho sérios problemas com esse tipo de filme de choradeira, criança que some e mãe sofrendo. Ouvi dizer que é bom. Ouvi dizer que vai levar o Oscar - já que o Globo de Ouro ficou com a Kate Titanic. Vou assistir? Não sei. Todo mundo falou tanto naquele Menina de Ouro e fui lá ver a história. Chorei e saí do cinema com uma angustia - porque parece que fazer sofre o tempo todo é moda. E eu gosto de um burrice de vez em quando. Vou lá assistir O Dia em que a Terra Parou, comer pipoca e deixar meus neurônios descansarem.

Mas suas críticas valem mais que o filme.

Bjs, Sr. Editor.

Anônimo disse...

olá.


cá estou eu com meu caderninho anotando a lista beto, mais uma para ver.


sorte e luz.

Lorena disse...

De uns tempos pra cá tenho achado a Angelina Jolie um abuso de beleza, coisa que nunca achei antes. Angelina de batom vermelho acho que pode até dar cadeia, viu, fiquei com medo disso... E Angelina tá na TV hoje, junto com seu não-menos abusivo marido, acho que vou ali dar uma espiadinha nisso e morrer do coração...

Bom, contando que o cinema da minha cidade passa o filme na semana que ele sai na locadora, não vou ver A Troca tão cedo. Mas, diferentemente da Let aqui em cima, sou muito de filmes que me incomodam de alguma forma. Gosto de diretores que me deixam com a pulga atrás da orelha ou que conseguem a façanha "larsvontrieriana" e "kubrickiana" de manipular meus sentimentos. Então fiquei curiosa com o novo Eastwood que, é verdade, raramente decepciona. Algumas pessoas dizem que ele abusa do clichê e do drama desnecessário. Na verdade, não me importo desde que não fique artificial demais (como um Crash da vida). Acho que sua direção é sim impecável. Então acho que não vou perder A Troca não.

Abraço e boa semana, Beto. ;)

Denise Ravizzoni disse...

Eu leio seu blog.

Cícero disse...

Muito fraca a Andelina Jolie. Como eu sei que tu chora até em comercial de margarina acredito no teu relato. Dá pra entender bem porque o primeiro diretor desistiu do filme. Disse que a Angelina tinha uma personalidade muito forte... que nada, tava achando ruim mesmo. Se tu chorou nesse filme vai se derramar em lágrimas com os Ets. Abraço.

Cícero disse...

Muito fraca a Andelina Jolie. Como eu sei que tu chora até em comercial de margarina acredito no teu relato. Dá pra entender bem porque o primeiro diretor desistiu do filme. Disse que a Angelina tinha uma personalidade muito forte... que nada, tava achando ruim mesmo. Se tu chorou nesse filme vai se derramar em lágrimas com os Ets. Abraço.

Felipe Lima disse...

é. esses caras que jogam a verdade na nossa cara, fantasiada de arte deveriam ser processados. nossa vidinha seria tão mais confortável sem eles...

Unknown disse...

Vi ontem 'o dia em que a terra parou' e continuo preferindo o original que me deixou morrendo de medo daquele robozão (eu era menina) e 'a troca' devo ver essa semana, mas já estou pensando... esse negócio de usar muito o canal lacrimal, as mulheres Coirano choram até em comercial de pomada para contusões. Minha filha número 2 (kkk) uma vez quase me mata de raiva porque começou a chorar na hora dos créditos iniciais do 'tudo sobre minha mãe'. O filme nem tinha começado e ela lá do meu lado fungando. Com esse negócio de filho perdido então, vou me acabar de chorar. No 'lista de schindler' quase não consigo sair do cinema, mas aquilo já era uma crueldade suprema, as crueldades que fazemos para conquistar um pouco de prazer (e não a Europa) passam despercebidas pelos olhos menos atentos, ou será que os viramos em outra direção?
Abração.

Daisy Serena disse...

Quero muito ver esse filme!
E com certeza incomoda-nos assistir algo que nos mostra o que somos. Mesmo que tentemos negar, ficamos inquietos, pra lá e pra cá na cadeira, e quando o filme termina ficamos a pensar e pensar.
Mas muitas vezes isso não muda muita coisa.
A boca da Jolie de vermelho, de fato, deve ser climax do filme!hahahaha.

Beijao Beto

Jana Lauxen disse...

Li ontem sobre esse filme e fiquei bem curiosa.
Mas sou abestada e uma otimista incorrigível, e duvido que o Clint me convença de que os homens não são essencialmente bons.

Beijão Beto!
:)

Flor de Tília disse...

Troca por troca creio que em ambos os filmes há o pano de fundo sobre coisas muito parecidas: nós, seres humanos.
Infelizmente tem algo no filme do Clint Eastwood que me incomoda muito. Acho a história incrível, com a excelente vantagem de ser real, o roteiro parece-me bem construído, mas achei frio, distanciado, burocrático. Legítimo caso de quando lágrimas na tela são somente lágrimas. Pouco sentido, pouco vivido. Parece que posso ouvir a voz do diretor e seu comando para os atores. Em especial no que se refere à Angelina.
E tem mais: o batom vermelho atrapalhou, na minha opinião. Não pelos mesmos motivos que podem ter te perturbado, mas porque a maquiagem fez com ele ela estivesse quase sempre mais próxima da noiva de Conde Drácula do que de uma mãe desesperada, enfrentando tudo e todos para ter seu filho de volta.
Enfim, é mera opinião. Gosto. Experiência.
Não sou uma especialista, mas em mim, o filme não chegou lá. E tinha tudo.

Silvares disse...

Pois é. Aquele batôn é demasiado...