Merda, merda e merda.


Pois é! O Inácio, sabe, disse merda. Se meu filho, estudante de terceira série, disser isso, certamente eu o repreenderei. É simples:
- Meu filho, não fale assim. É feio.
Mas eu devo estar maluco. Não tem nada de feio. Se o presidente da nação, a autoridade máxima, o comandante em chefe das forças armadas - ou seja, o cara que tem a caneta e a metralhadora na mão - diz, porque um menino sapeca não poderia? Eu ando mesmo desatualizado. Estou - ainda bem - ficando velho. Dizer merda - merda! - não tem nada de errado. Eu é que sou um conservador esquisitão cheio de manias. Fico pensando que as pessoas que não concordam que se fale assim também assistem televisão e, talvez, possam não gostar de ver o presidente falar o que na escola seria condenado. Mas que merda, como sou antiquado. Provavelmente eu seja o cara de esquerda mais conservador que exista.
E tenho alguns dogmas. Por exemplo: se eu for visitar um convento, freiras, madre superiora, essas coisas, eu não direi merda. Se eu for em uma escolinha infantil. Bebês, crianças correndo, coisas assim, também não direi. Entretanto, se estiver no futebol - por falar nisso, que merda, os caras entregaram pro Mengo - eu digo sem problemas. Se estiver em um cabaré, com muita cerveja na cabeça, que merda, gostaria de dançar. Mas se estiver na televisão, onde as putas, as crianças, as freiras e todas as torcidas estiverem vendo? Não direi também, afinal, eu respeito a todos. Inclusive freirinhas (mesmo que não goste delas) e criancinhas.
Bem, como aqui não existem leitoras de conventos e nem crianças, que merda, estou novamente zangado. Tenho brigado incansavelmente com minha memória - não lembro bem porque - e, merda, ela tem ganhado todas. Lembro somente que sou antiquado e careta. Que tenho que me modernizar, mas não recordo a razão do meu mau humor. Se bem que ele é natural, meu companheiro matutino há alguns anos, e de confiança. Está sempre comigo, principalmente às segundas-feiras.
Mas, depois de ouvir o Inácio propositadamente falando merda, como fosse algo muito legal, algo merecedor de aplausos (ele ficou esperando e - pasmem - foi ovacionado ) fiquei não somente mal-humorado, mas muito mal-humorado. Muito mesmo.
Já ouvi músicas falando assim, peças de teatro usando da artimanha da vulgaridade para garantir algumas linhas nos jornais, bons e grandes autores usando do expediente e creio que haver problema algum. Mas, o senhor Inácio, em plena televisão? Desisto. Não concordo e, merda, acho uma baixaria desnecessária, apelativa e populista. Além de um gosto pra lá de duvidoso.
Falando nisso, lembrei a razão do mal-humor: as próximas eleições. As opções elegíveis são dignas do vocabulário do Inácio, porque, na verdade, são merdas. Nada além disso.
Não há nenhum, com chance de ser eleito, que não seja merda.
Nunca repeti tanto a mesma palavra em um mesmo texto, mas, como aconteceu com o Inácio, foi proposital. Que merda, então.
Merda, merda e merda.
Mais uma coisa: merda pra nós todos.
Merda! É o que teremos nas próximas eleições.
Melhor ir acostumando.

10 comentários:

Carlos disse...

Votarei no Cacareco

Letícia disse...

Voltei pra você. =)
Depois de uma longa temporada fazendo merda nenhuma. hehehehe...

Brincadeiras de lado, gosto muito de seu tom irônico, humorístico. Leio muito do que você escreve e não me parece coisa de quem está enchendo linguiça. É isso aí.

E o Inácio, devemos admitir, não é homem apenas. Ele é um mito. Nós deixamos com que fosse construída essa imagem e agora Inês é morta. Ele pode até cuspir no chão que vão dizer que é coisa de homem que batalhou muito na vida e toda aquela conversa de " O que é isso, companheiro?". Ele falou merda e muita gente faz merda e, pra completar, eu leio a Veja que é uma grande Merda. Mas eu leio.

E sobre a idade. Também sou das antigas. Li uma crônica do Rubem Braga que dizia:

"Sou do tempo em que toda geladeira era branca e todo telefone era preto."

Fico me policiando pra não falar merda por aí. E olha que nem frequento igrejas.

E sobre as eleições, uma grande merda mesmo. Não existe candidato algum.

Ah, e eu sou Lulista. Sempre fui. Coisa de brasileiro que nunca desiste. =)

Beijo, Sr. Editor.

Fabiano Silva disse...

O problema não é ser subdesenvolvido. É ser subadministrado. A pior merda é saber que somos os principais culpados disso tudo. Nós, o povo.
Cada país tem o governo que merece...

Silvares disse...

Merda por merda... que seja merda, então!

Ana Tapadas disse...

Pois a eterna m...
obrigada pela visita.
bj

Carla Rossa disse...

Beto, estas muito lasier martins!!!

Carla Rossa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
fab disse...

O Lula devia ter falado "bosta". Merda é muito clichê.

fab disse...

Aliás, o Lula falou merda a vida toda. A diferença é que agora ele resumiu o discurso.

Angela disse...

O comentário do Fabrício matou a pau (já que pode merda... liberou geral...)
Angela