Cirque du Soleil - Quidam - e o choro.



Já contei quando vi o  Ursinho Puff e o Efalante? Não? Resumidamente: chorei. E não tinha como ser diferente. Quando o amigo do protagonista, um elefantinho, entra na floresta e se perde, é impossível controlar as lágrimas. Seguramente uma das cenas mais tensas e tristes da história dos desenhos animados. Meu menino, na época com 6 ou 7 anos, colocou a mão no meu ombro e cochichou:

- Calma, pai. Tudo vai acabar bem.
Chorar com razão é muito razoável. Quando ele me consolou tive vontade de retrucar "eu sei, eu sei, mas acontece que ele está sofrendo agora e é por isso que estou chorando", mas, claro, resolvi tudo com uma fungada horrorosa e fiquei como se deve ficar no cinema: calado.

Ontem fui ver Quidan do Cirque de Soleil. A primeira lembrança que tive ao entrar na tenda gigantesca foi dos circos que via no interior, com o picadeiro feito com tábuas pregadas e muitos animais, tristonhos e maltratados. Fiquei um pouco nostálgico, pensativo.
Começa o show. Uma inigualável sequência de performances inacreditáveis em um ritmo alucinante. Um som alto (mas na medida certa) tocado ao vivo por músicos de primeira grandeza, acompanhando cada detalhe meticulosamente ensaiado. O desfile das proezas e as expressões dos artistas junto à coreografia belíssima, a teatralidade e a arte que envolvia tudo, me levou, sem rodeios, às lágrimas.
Continua. Mais e mais. Partes de uma plasticidade estonteante. Música calma, movimentos suaves, pessoas flutuando, caminhando no ar, habilidades raras, luzes tênues, sorrisos meigos, corpos sensuais pendurados em fitas vermelhas, corpos perfeitos. Resultado: choro.
E ainda mais. Gente engraçada, graciosa. Situações hilárias. Palhaços sem nariz vermelho que não dão chutes em bundas alheias. Palhaços que parecem sem vontade de matar a família após cada espetáculo. Palhaços que fazem crianças e adultos sorrirem sem humilhar ninguém. E dança. Muita dança. Enfim: teatro, música, comédia e o fantástico, tudo ali, na minha frente, ao alcance dos meus sentidos. Não poderia ser diferente: elas novamente, escorrendo vivas em minha face.

Chegou o final e nada dos elefantes tristes e leões famintos aparecerem. Ainda bem. Me recompus e numa rápida análise, percebi que havia chorado apenas três vezes. Começo, meio e fim. Foi quando lembrei do Ursinho Puff e da cena triste e tensa que levou-me às lágrimas. Como naquela vez, meu pranto atual também tinha motivo. Outro motivo, é verdade. E ele nada mais é do que a surpresa de perceber como somos artistas, como somos fantásticos, como somos belos.
Parece impossível que as pessoas que produzem um espetáculo tão bonito quanto Quidam, pertençam a mesma civilização onde também fazem parte pedófilos, torturadores, racistas, corruptos, estupradores e por aí afora.
Por isso as três vezes foram poucO, afinal, o sentimento de que talvez ainda existam chances para todos nós sermos felizes, de que podemos produzir coisas maravilhosas e não só desgraças, é um alento. Um grande alento. Enfim, somos capazes! E descobri isso em um circo.

O preço é de chorar também. Mas vale cada centavo.
Sem exageros.


3 comentários:

Ricardo Valente disse...

Até me emocionei, hehe. Sabe, a gente vai envelhecendo e fica uma manteiga derretida. Agora, convenhamos, chorar vendo o Ursinho Puff? Tá sensível esse "moço"... E pior: dizem que O Cirque du Soleil daqui é chinelo perto do que está em Miami. Se fores lá, vais ter que levar um cardiologista. Quem sabe de Camaquã!
Abraço, Betão (como diz meu amigo Afobório)!

Biba disse...

Muuuuuuuuuito legal!!

Beijo
Carpe Diem!!

Sentimentalidades-Todas disse...

E dizem que chorar faz bem....rs

vou ali ver o puff e o efalante e já volto.

Adorei a escrita!